quarta-feira, 11 de julho de 2012

Senhoras do destino

Em A Chave do Tamanho, Lobato criou uma fábula moderna em que as crianças são as donas da história


Não me lembro qual foi o primeiro livro que li sozinho, do começo ao fim. O caso é que, para a Literatura entrar em mim, se tornando parte da minha vida, foi necessário encontrar um lugar especial, desses em que a gente “quer morar”, e personagens que você, no que descobre, sente que conhece, que conheceu a vida inteira, e ficou esperando encontrá-los de verdade um dia. Sem isso, acho que a Literatura não se torna um barato na vida da gente. Isso aconteceu quando comecei a ler Monteiro Lobato e as aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo.
Também não sei mais qual foi meu primeiro Lobato. Mas nunca esquecerei o meu lobato crucial, aquele que me abduziu para a literatura. E para o mundo – porque transformou minha vida. Foi A Chave do Tamanho.
A história se passa em plena Segunda Guerra Mundial. Emília fica horrorizada com as notícias dos bombardeios sobre Londres, com mortes de civis e crianças, e decreta que existe em algum lugar a Casa das Chaves, nas quais estão guardadas as chaves que regulam tudo no mundo. Bastaria chegar lá e desligar a chave da guerra.
Num Pirlimpimpim, ela chega ao tal lugar, mas escolhe a Chave do Tamanho, que deixa os adultos menores do que minhocas. Como o poder dos adultos baseava-se no tamanho, as crianças, que nunca se valeram desse poder, passam a mandar no mundo.
Esse Lobato generoso, tão mal compreendido (e mal lido), desde que lançou seus livros e ainda atualmente, escreveu ali uma fábula moderna em que as crianças se tornam protagonistas, as donas da história e de seus destinos. Quando o li, encontrei minha “tchurma”, Vislumbrei o que queria e sonhava da vida. Foi o livro que me abriu a inteligência. Não sei o que era antes, mas comecei a pensar comigo mesmo e a me pensar no mundo. Foi e será sempre o livro mais importante que já li.

Fonte: Revista Carta Fundamental n. 36, março de 2012, Texto de Luiz Antonio Aguiar

Um comentário:

  1. O Lobato é mesmo incrível! Não é o primeiro e nem o último relato de alguém que ama os livros graças a ele. Eu mesma li Lobato na infância e me apaixonei pela leitura até hoje.

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