segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Medio pan y un libro (Meio pão e um livro)

Discurso do poeta Federico García Lorca na inauguração da biblioteca de sua cidade natal “Fuente Vaqueros” em Granada, Espanha em setembro de 1931.

"Quando alguém vai ao teatro, a um concerto ou mesmo a uma festa de qualquer índole que seja, se a festa é de seu agrado, imediatamente lembra e lamenta que as pessoas que ele ama não se encontrem ali. “Minha irmã e meu pai gostariam de estar aqui”, pensa, e não desfruta mais do espetáculo, a não ser através de uma leve melancolia. Esta é a melancolia que eu sinto, não pela gente de minha casa, o que seria pequeno e ruim, mas por todas as criaturas que por falta de meios e por desgraça não desfrutam do supremo bem da beleza que é vida e bondade, serenidade e paixão.

Por isso nunca tenho um livro, porque presenteio todos que compro,  que são numerosos, e por isso estou aqui honrado e contente em inaugurar esta biblioteca da cidadezinha, a primeira seguramente de toda a província de Granada.

Não só de pão vive o homem. Eu se tivesse fome e estivesse à míngua na rua não pediria um pão; pediria meio pão e um livro. E daqui eu ataco violentamente aos que somente falam de reivindicações econômicas sem jamais apontar as reivindicações culturais que é o que os povos pedem aos gritos. Bem está que todos os homens comam, porém que todos os homens saibam. Que desfrutem de todos os frutos do espírito humano porque o contrário seria convertê-los em máquinas a serviço do Estado, seria convertê-los em escravos de uma terrível organização social.

Eu tenho muito mais pena de um homem que quer saber e não pode, do que de um faminto. Porque um faminto pode acalmar sua fome facilmente com um pedaço de pão ou com umas frutas, porém um homem que tem ânsia de saber e não possui os meios, sofre uma terrível agonia porque são livros, livros, muitos livros o que necessita e onde estão estes livros?

Livros! Livros! Aqui está uma palavra mágica que equivale a dizer: “amor, amor”, e que deveriam pedir os povos como pedem pão ou como desejam a chuva para suas colheitas. Quando o insigne escritor russo Fedor Dostoievski, pai da revolução russa muito mais que Lênin, estava prisioneiro na Sibéria, afastado do mundo, entre quatro paredes e cercado por desoladas planícies de neve infinita; e pedia socorro em carta a sua família distante, somente dizia: “Envia-me livros, livros, muitos livros para que minha alma não morra!”. Tinha frio e não pedia fogo, tinha uma sede terrível e não pedia água: pedia livros, ou seja, horizontes, escadas para subir a montanha do espírito e do coração. Porque a agonia física, biológica, natural, de um corpo por fome, sede ou frio, dura pouco, muito pouco, mas a agonia da alma insatisfeita dura a vida inteira.

Já disse o grande Menéndez Pidal, um dos sábios mais verdadeiros da Europa, que o lema da República deve ser: “Cultura”. Cultura porque somente através dela se pode resolver os problemas que hoje debate o povo, cheio de fé, porém falto de luz."

Fonte: Site Biblioteca Unisinos.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Exercite seu cérebro

Leia simultaneamente vários livros e exercite seu cérebro! Ao praticar isso, você o forçará a lembrar do ponto que parou em cada um dos livros. Isso é muito importante, pois estaremos estimulando o crescimento da parte mais importante do nosso corpo. Além disso, ao exercitar o cérebro, aumentamos a quantidade de ligações (pontes) entre os neurônios, deixando-o mais ágil e flexível.

Além dessa, conheça abaixo outras dicas para poder estimular, fortalecer, aumentar as conexões, melhorar a agilidade e a flexibilidade cerebral. Segundo neurocientistas, deve-se sempre exercitar o cérebro, executando as tarefas diárias de maneira diferente da habitual. Siga essas dicas:

- Vista-se com os olhos fechados;
- Faça um caminho diferente para ir ao trabalho;
- Coma com os olhos fechados e sinta as diferentes texturas e sabores;
- Passe algumas horas com o ouvido tampado para experimentar o mundo sem sons;
- Aprenda um novo idioma;
- Cheire um aroma em momentos rotineiros como ao acordar, antes de se vestir antes de deitar ou ao escutar música;
- Mude de supermercado;
- Escove os dentes de olhos fechados usando a mão não dominante;
- Tome banho de olhos fechados;
- Veja as horas em um espelho;
- Use o mouse com a mão não dominante.
- Leia vários livros ao mesmo tempo!

E ai, curtiu as dicas?

Fonte: Leia Livro

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Bichos leitores!

Ao pensar no título desse texto comecei a rir sozinha, pois fiz uma revisão das inúmeras ações que realizei durante mais de 30 anos de profissão com o objetivo de formar leitores. Gosto tanto de ler e de narrar histórias que, duvidem, lembro-me nitidamente de rostos e reações de crianças e adultos nas minhas diferentes ocupações literárias.

Como resolvi falar de bichos leitores, fiquei me imaginando formando bichos-leitores numa roda de histórias, rodeada de gatos, cachorros e passarinhos, pelos menos esses animais de maior convivência com o humano. Ops! Ando vendo reportagens de pessoas que fazem coleção de cobras e lagartos (isso é pior que dizer cobras e lagartos!)

Prefiro a minha coleção! Prefiro falar da minha coleção! Eu e a Ana Esmeralda Carelli que trabalha comigo na Universidade Estadual de Londrina, colecionamos livros que tratam de livros, bibliotecas e leitura. Outro dia ela me deu de presente um livro. Um livro encantador! Seu título é Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo escrito por William Joyce, ilustrado por William Joyce e Joe Bluhm. Talvez você leitor não conheça o livro, mas pode ter assistido o filme a respeito dele veiculado no youtube cujo título é Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore. Se ainda não viu, lá vai o endereço.

Fiquei tão feliz com o presente que tirei da minha biblioteca outros livros e os levei para a Ana Esmeralda verificar se ela já conhecia. Alguns sim outros não.

O fato é que, nessa mediação literária, anotei alguns para comprar e ela também. Isso tudo me encheu a boca d’água e numa vontade animal, comecei a buscar livros com bichos leitores e descobri, talvez (re)descobri, que eles são muitos. Na minha estante tenho alguns e é deles que quero falar agora.

Vou começar pelo morcego-leitor porque geralmente as pessoas têm nojo de morcegos; eu tinha um pouco de medo, mas uma vez fiz pesquisas e descobri que são importantes para a natureza, então passei a olhá-los (de longe) com outros olhos.

O meu morcego-leitor, isto é, meus morcegos estão no livro Morcegos na biblioteca que tem texto e ilustrações fantásticas de Brian Lies. Veja como eles resolvem acabar com o tédio que estavam sentindo numa noite fria:

Já chegou outra noite escura
com ar frio e céu azulado.
Já comemos, voamos e brincamos,
mas ainda estamos entediados!
Esta monotonia dá uma tristeza!
Para nos alegrar, só algo muito divertido,
bem melhor do que qualquer soneca...
Será possível? Que grande ideia!
Vamos passear na biblioteca! (LIES, 2009, p.1-3).

Nessa biblioteca aconteceu, entre outras atividades, a narrativa de histórias para os bebês-morcegos que se espalharam pela biblioteca e ficavam da forma que desejavam, incluindo a posição dependurada de cabeça para baixo nas mesas e estantes.

Outro livro que tenho é Dewey um gato entre livros da escritora norte-americana Vicki Myron com a colaboração de Bret Witter, mas, por não ser infantil, quero falar do O gato da biblioteca que foi escrito por Kenji Miyakawa, carioca que mora no Japão há mais de 40 anos e ilustrado por Goroh Tabata. Ele narra a história de um gato que mora numa biblioteca com sua família e nela lê muito livros, principalmente os leves e menores, pois os “enormes” ele tem medo que caiam em cima dele esmagando-o. Um dia de tanto sonhar em se aventurar pelo mundo, embarca clandestinamente no caminhão, e de repente, vai parar numa editora e nela passa a residir, pois ali conseguiu um dono que, além de cuidar dele com carinho, viajava muito, e estava aí a oportunidade de conhecer o mundo. Pensando nisso, ele pergunta: “Não é mesmo um sucesso!”

Tenho também o livro O monstro que adorava ler. Esse monstro é um misto de gente com bicho que adorava assustar as crianças entre árvores frondosas. Um dia urra para assustar uma menina bem pequena, porém ela estava tão compenetrada lendo que não se assusta. O monstro irado dá um urro muito forte que a menina foge assustada, esquecendo o livro. Ele curioso para saber por que aquela menina estava tão fascinada, começa a tentar entender o que era aquele objeto. A avó Dragão não se conformando dele não saber o que é um livro começa a alfabetizá-lo... depois disso a mania de leitura se espalhou entre os outros monstros. O monstro em gratidão sente vontade de reencontrar aquela menina.

Assim, o grande monstro deixou o livro da menina perto da pedra onde o encontrara; Em seguida, colocou ali uma outra pedra, menor e achatada, em forma de coração... Talvez seu desejo se realize, quem sabe?

Caro leitor se o monstro encontrou a menina a autora não contou, mas na última página, após a biografia da autora e do ilustrador, há uma imagem dos dois juntos. Então fica para o leitor decidir... Essa liberdade é fundamental para amar o livro e a leitura, pense nisso mediador!

Sugestões de leitura

CHARTRAND, Lili. O monstro que adorava ler. São Paulo: Comboio de Corda, 2009.
LIES, Brian. Morcegos na biblioteca. São Paulo: Globo, 2009.
MIYAKAWA, Kenji. O gato da biblioteca. [s.l.], Shinseken, 2001.

Fonte: Site InfoHome, Colunas novembro/2013, Texto de Sueli Bortolin.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Semeador de versos

Nicolas Behr não escolheu entre mudas e letras: soube conciiliar as duas paixões como partes essenciais de sua rotina 

As mãos pequenas do menino Nicolas Behr eram guiadas pela mãe em meio à mata da fazenda onde moravam em Cuiabá, na década de 1960. Às mesmas mãos, eram apresentadas frutas e sementes, que, logo, se enraizariam no garoto. Tanto que, na juventude em Brasília – para onde a família se mudou em 1974 -, a intimidade com o verde ganhou a forma de saquinhos de leite com mudas de árvores típicas da região. Algumas iriam para as terras dos pais, outras seriam vendidas. O hobby, no entanto, repousou à sombra de uma jaqueira quando Nicolas aprendeu, nas aulas de português, o significado da expressão “licença poética”. Desde então, a poesia virou mais uma semente. “Ela foi uma forma de dialogar com a cidade”.
Antes, como muitos garotos, o que ele queria mesmo era ser guitarrista, baixista, cantor ou baterista de uma banda de rock. “Só que não tenho o tal ouvido musical. Por isso fui pelo caminho da poesia. Só preciso de papel, lápis e imaginação”. Graduado em publicidade, exerceu por pouco tempo a profissão, até enveredar como ambientalista em diversas ONGs. Pouco depois, já nos anos 90, se dedicou à venda de mudas nativas, tornando-se um dos pioneiros em comercialização de plantas do cerrado. Desde então, aquela lembrança de cidade nua de árvores, habitada por linhas retas e curvas, se transformou em tema frequente dos livros de Behr, reconhecido como o poeta de Brasília, por tê-la como musa.

Além da literatura, Behr trabalha como sócio e proprietário de um viveiro. É que, além de ser botânico amador, os versos de Nicolas brotam do chão. Nesse ritmo, ele segue com os pés na terra e a cabeça nas nebulosas poéticas. Hoje, aos 55 anos, orgulha-se de mergulhar as mãos no solo e tem certeza de que, todos os dias, escreve ou planta algo para ganhar mais anos sobre a terra. “Plantar ou criar uma poesia tem algo de querer permanecer. No fundo, o que a gente quer é derrotar a mote e ser lembrado pelo que fez.”

Fonte: Revista Vida Simples, n. 137, novembro 2013, p. 17. Texto de Júlia Duarte, Ilustração de Indio San

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Stephen King dá sequência a "O Iluminado"

Em Doctor Sleep, o mestre do terror resgata a história do personagem Danny Torrance, o menino que circulava de triciclo pelos corredores do Hotel Overlook




Com mais de 50 obras publicadas e 400 milhões de livros vendidos, Stephen King, tido como o mestre do terror, decidiu dar continuidade ao icônico O Iluminado com Doctor Sleep, um livro que retoma a história do personagem Danny Torrance 36 anos depois.

A sequência de O Ilu­­­­minado, que foi levada ao cinema por Stanley Kubrick com Jack Nicholson (Jack Torrance) no papel principal, foi lançada no dia 24 de setembro no mercado internacional, e será lançado no Brasil no ano que vem, pela editora Suma de Letras.
Escrito há mais de três décadas, quando o jovem King enfrentava sua terceira publicação, O Iluminado antecedeu a fama que seria alcançada pelo autor de um gênero que monopolizou com o lançamento de vários best sellers.

De 1977 até os dias de hoje, a vida de King mudou muito, assim como a do personagem da nova e bem-sucedida obra, Danny Torrance. “O protagonista nunca desapareceu da minha mente, tinha muita curiosidade por saber o que teria sido feito daquela criança. Estava muito nervoso perante a ideia de continuar o livro, mas era um desafio que me apetecia muitíssimo”, comentou o autor de obras como A Dança da Morte, Carrie, a Estranha e O Talismã.

Visões

Aquela criança que percorria o Hotel Overlook de triciclo se transformou em Doctor Sleep, um adulto com problemas alcoólicos e sem residência fixa, que vive atormentado por suas visões e os fantasmas de sua infância.

Neste aspecto, a história de Torrance chega a lembrar a de seu criador, King, que recebeu a notícia da publicação de seu primeiro livro pelo telefone de uma vizinha, já que, na época, o autor não tinha residência e vivia com sua família em um trailer.

Assim como o protagonista, o escritor americano também sofria de dependências, em seu caso, além do álcool, a cocaína, vício que ele conseguiu superar com o passar do tempo.

No entanto, a atormentada vida de Danny terá seu ponto de inflexão diante das visões de Abra Stone, uma menina perseguida por uma tribo de seres paranormais que se alimenta de crianças dotadas deste dom, algo que acabará levando Danny a ajudá-la.

Esse não foi o único livro que o autor decidiu resgatar nos últimos anos. Assim ocorreu com as obras Celular, Os Estranhos e O Apanhador de Sonhos, que retomaram os clássicos A Dança da Morte, Salem e A Coisa, respectivamente.

Esse é Stephen King, que vê como espectador a adaptação ao cinema de Carrie, a Estranha, mas que se mostra disposto a reviver as histórias que se amontoaram em sua cabeça, dando oportunidade aos leitores de compararem o novo e velho King.

Fonte: Gazeta do Povo, Caderno G

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aos que não gostam de ler

Por Rubem Alves

“Nada tenho a dizer aos que gostam de ler. Eles já sabem. Mas tenho muito a dizer aos que na gostam de ler. Pena é que, por não gostarem de ler, é provável que não leiam isso que eu vou escrever. O que tenho a dizer é simples: “Vocês não sabem o que estão perdendo”. Ler é uma das maiores fontes de alegria. Claro, há uns livros chatos. Não os leiam. Borges dizia que, se há tantos livros deliciosos de serem lidos, por que gastar tempo lendo um livro que não dá prazer? Na leitura fazemos turismo sem sair de casa, gastando menos dinheiro e sem correr os riscos das viagens. Shogun me levou por uma viagem ao Japão do século XVI, em meio aos ferozes samurais e às sutilezas do amor nipônico. Cem anos de solidão, que reli faz alguns meses, me produziu espantos e ataques de riso. Achei que Gabriel García Márquez deveria estar sob o efeito e algum alucinógeno quando o escreveu. Lendo, você experimenta o assombro do seu mundo fantástico sem precisar cheira pó. É isso: quem lê não precisa cheirar pó. Nunca tinha pensado nisso. A poesia de Alberto Caeiro me ensina a ver, me faz criança e fico parecido com árvores e regatos. Agora, essa maravilha de delicadeza e pureza, do Gabriel velho com dores no peito e medo de morrer: Memórias de minhas putas tristes. Li, ri, me comovi, fiquei leve e fiquei triste de o ter lido porque agora não poderei ter o prazer de lê-lo pela primeira vez. Pena que vocês, não leitores, sejam castrados para os prazeres que moram nos livros. Mas, se quiserem, há remédio...”

Fonte: Retirado do livro “Do universo à jabuticaba” p. 189. 

sábado, 9 de novembro de 2013

Letras e artes

Hábitos curiosos de escritoras

  • Agatha Christie gostava de andar disfarçada.
  • Barbara Cartland passava batom e perfume antes de sentar-se à sua mesa de trabalho. Em sua própria casa.
  • Clarice Lispector foi ghost writer da modelo Ilka Soares.
  • Cora Coralina vendia banha de porco e linguiça.
  • Doris Lessing decidiu abandonar os estudos com 14 anos.
  • Emily Dickinson encadernava seus livros à mão.
  • J.K. Rowling gosta de escrever em locais públicos.
  • Simone de Beauvoir não tinha residência fixa: morava em hotéis e pardieiros.

Fonte: O Guia das Curiosas

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Neil Gaiman: o poder e o prazer da leitura

"Uma vez eu estava em Nova York e assisti uma palestra sobre o negócio de construir penitenciárias - uma indústria que cresce muito na América. Eles precisam planejar seu crescimento futuro - quantas celas vão precisar? Quantos prisioneiros vão estar na cadeia, digamos, daqui a 15 anos? E eles descobriram que conseguem prever isso muito facilmente, usando um algoritmo muito simples, baseado na porcentagem de crianças de 10 a 11 anos que não conseguem ler."

"Os Chineses promoveram sua primeira convenção de fantasia e ficção científica em 2007, eu estava lá. Perguntei, por que agora? Responderam: nós Chineses somos brilhantes para copiar os outros, mas somos fracos em inovação. Não inventamos nada, não imaginamos coisas novas. Então o governo mandou uma delegação aos EUA, para visitar a Apple, a Microsoft, o Google, e conhecer como eram as pessoas que estavam lá inventando o futuro. E todos eles tinham lido ficção científica, quando eram meninos ou meninas."

Com argumentos como esses, fica difícil resistir ao gentil manifesto de Neil Gaiman pela leitura, pelas bibliotecas, e principalmente pelo prazer de ler. Os parágrafos fazem parte de uma palestra que ele deu recentemente em favor da The Reading Agency, uma organização que promove a leitura no Reino Unido. É o cara certo para esta pregação. Neil Gaiman vive entre a alta literatura e o gibi, entre Borges e Hollywood, a mitologia e o rock'n'roll. Nunca sacrificou o apelo pop para impressionar a crítica. Escreve para crianças, adolescentes, adultos - frequentemente, ao mesmo tempo. Agora, colhe os frutos de um bem-sucedido romance "adulto"e semiautobiográfico para todas as idades, O Oceano no Fim do Caminho, e retoma os quadrinhos que fizeram sua fama com Sandman: Overture.

Neil, cinquentão, sempre de preto, ainda posa de rockstar dark-fofo e derrete as fãs. Mas devagarinho se converte em outro arquétipo: o velho sábio, sarrista e um pouco ranzinza, que tem muito a ensinar. Suas palavras são brisa suave que sopra pra longe o cinismo. Reproduzo sua preleção, em inglês, e não resisto a traduzir uns trechinhos.

"A ficção é uma porta para a leitura em geral. O impulso de querer saber o que acontecerá depois, de virar a página, de continuar, mesmo que seja difícil, porque alguém está com um problema e você quer saber como vai ser o fim da história - é um impulso muito real. E te força a aprender palavras novas, a pensar pensamentos novos, a continuar... e quando você aprende isso, está na estrada para ler tudo."

"A maneira mais simples de garantir que criaremos crianças alfabetizadas é ensiná-las a ler, e mostrar que ler é um prazer. Qualquer livro que elas curtam..."

"Ficção constrói empatia. Quando você vê TV ou um filme, está olhando coisas acontecendo com outras pessoas. Ficção em prosa é algo que você constrói com 26 letras e um punhado de pontuação, e você, só você, usando sua imaginação, cria um mundo e pessoas nele e olha através de outros olhos. Sente coisas, visita lugares e mundos... aprende que todas as outras pessoas lá fora também são um eu. Você está sendo outra pessoa, e quando volta ao seu próprio mundo, está ligeiramente transformado. Empatia é uma ferramenta para reunir pessoas em grupos, e permite que funcionemos como mais que um indivíduo obcecado por si mesmo."

"Ficção pode mostrar um mundo diferente. Depois que você visitou outros mundos... nunca mais estará inteiramente satisfeito com o mundo em que você cresceu. Insatisfação é uma coisa boa: pessoas insatisfeitas podem modificar e melhorar seus mundos, fazê-los melhores, transformá-los."

"Todos nós - adultos e crianças, escritores e leitores - temos obrigação de sonhar acordados. Temos obrigação de imaginar. É fácil fingir que ninguém pode mudar nada, que estamos em um mundo em que a sociedade é enorme e o indivíduo menos que nada: um átomo numa parede, um grão de arroz numa plantação. Mas a verdade é que indivíduos mudam o mundo o tempo todo, indivíduos fazem o futuro, e eles o fazem imaginando que as coisas podem ser diferentes."

Fonte: Portal R7, Texto de André Forastieri.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dia Nacional do Livro completa 203 anos


Relação das pessoas com o livro tem se intensificado
Dia 29 de outubro é o Dia Nacional do Livro. E você sabe por quê? Por que foi nesse dia, em 1810, que a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil, quando então foi fundada a Biblioteca Nacional e esta data escolhida para homenagear e ressaltar a importância dos livros.

O Brasil passou a editar livros um pouco antes, a partir de 1808 quando D. João VI fundou a Imprensa Régia e a primeira obra editada foi "Marília de Dirceu", do português Tomás Antônio Gonzaga, um Romance que relata o amor do autor pela brasileira Maria Dorotéia Joaquina de Seixa, de quem fora noivo.

Passados 203 anos da instalação da Real Biblioteca Brasileira, a relação das pessoas com o livro tem se intensificado. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, divulgada em 2012, o Brasil é composto por 50% de leitores ou cerca de 88,2 milhões de pessoas. Na média o brasileiro lê quatro livros por ano, deste total 2,1 livros inteiros e dois em partes. O estudo também mostrou um aumento na aquisição dos livros, 48% contra 45% em comparação com a pesquisa anterior, realizada em 2007.

Outro dado animador é o aumento no número de pessoas que leem mais atualmente. No ano passado, 49% dos entrevistados disseram estar lendo mais, na pesquisa anterior esse número era de 40%. Como na pesquisa passada, a bíblia segue sendo o livro mais lido, com 48% no total, mas seu grande índice está na faixa etária acima dos 70 anos, quando esse dado sobe para 73%.

Com relação aos jovens, por exemplo, os livros infantis são mais lidos na faixa etária de cinco a dez anos, com 66%, mas um dado importante concentra-se nas pessoas entre 30 e 39 anos, apontado por 19%, o que mostra que as mães têm desempenhado o papel de ler para os filhos. Outro dado interessante é que poesia, para os jovens de 14 a 17 anos, com 28%, é mais lida do que as histórias em quadrinhos, que aparecem com 27%.

Já os livros juvenis concretizam seu público-alvo e são mais lidos pelos jovens de 11 a 13 anos, com 28%, e de 14 a 17 anos, com 26%. Livros esotéricos, por exemplo, que não são muito lidos no Brasil aparecem como mais lidos para 7% na faixa etária mais velha, entre 30 e 39 anos.

Fonte: Jornal Primeira Página, 29 de outubro de 2013, Caderno Cultura

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Leitura em crise

O mundo está cheio de gente preocupada com o “fim do livro”. Eu não tenho o menor medo disso. Temo, sim, o “fim da literatura”.


O livro de papel vai ser substituído por leitores eletrônicos. Vai ser um apocalipse, uma convulsão geológica capaz de afundar continentes e trazer ao sol plataformas oceânicas. Indústrias gigantescas, que durante séculos viveram do papel e da tinta, vão desmoronar como os templos dos últimos dias de Pompéia. E nos lugares mais improváveis vão surgir (já surgem) novas indústrias, transferindo o conteúdo da celulose.

A superfície Digital será onipresente: folhas flexíveis, transparentes, levemente luminosas, que se acenderão ao toque em pontos padronizados. Segurarei uma assim no café da manhã e verei (via wi-fi) a primeira página dos meus e-mails, minha timeline no Facebook ou meus clips musicais no YouTube. Se quiser, transferirei tudo com um toque para a parede da sala, também recoberta pela mesma camada de “microcristais ionizados” ou de sei lá o quê.

Poderei ler Ítalo Calvino na parede, Agatha Christie no travesseiro, Manuel Bandeira na lente dos óculos e H. G. Wells no para-brisa do carro (durante os engarrafamentos). Os livros de papel pertencerão ao passado, mas minha vida intelectual, como leitor, continuará a mesma.

É o fim da literatura que me amedronta. Pois hoje, na época do livro de papel, cada vez que piso em livrarias vejo os arraiais da literatura cada vez menores. Ela só brilha quando cabe na prateleira de lançamentos e sobrevive apenas se vender muito. Caso contrário, cede espaço à autoajuda, ao espiritualismo de barraca, aos manuais de vendas, às obras de dietas, gastronomia, viagens, turismo, piadas... Livros que se multiplicam a cada ano que passa, superlotando balcões, empurrando para cantos cada vez mais obscuros o romance, o conto, a poesia, a crônica e o teatro.

Não sentirei falta do livro de papel se o eletrônico seguir dando acesso a Raymond Chandler, Paulo Leminski, Júlio Verne, Julio Cortázar, Campos de Carvalho... Afinal, é de literatura que eu gosto. E de nada me serviria viver num mundo de livros de papel que só falem de anjos e de culinária e de onde a literatura desapareça por falta de leitores.

Fonte: Revista Carta Fundamental, n. 50, p. 66, agosto 2013, Texto de Bráulio Tavares, Ilustração de Liese Chavez.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

10 motivos pelos quais você deveria ler todos os dias

Estabelecer o hábito da leitura pode trazer diversos benefícios para a vida! Confira a seguir 10 motivos pelos quais você deveria ler todos os dias:

1. Estímulo mental

O cérebro necessita de treinamento para se manter forte e saudável e a leitura é uma ótima maneira de estimular a mente e mantê-la ativa. Além disso, estudos mostram que os estímulos mentais desaceleram o progresso de doenças como demência e Alzheimer.

2. Redução do estresse

Quando você se insere em uma nova história diferente da sua, os níveis de estresse que você viveu no dia são diminuídos radicalmente. Uma história bem escrita pode transportá-lo para uma nova realidade, o que vai distraí-lo dos problemas do momento.

3. Aumento do conhecimento

Tudo o que você lê é enviado para o seu cérebro com uma etiqueta de “novas informações." Mesmo que elas não pareçam tão essenciais para você agora, em algum momento elas podem ajudá-lo, como em uma entrevista de emprego ou mesmo durante um debate em sala de aula.

4. Expansão de vocabulário

A leitura expõe você a novas palavras que inevitavelmente serão incluídas no seu vocabulário. Conhecer um número grande de palavras é importante porque permite que você seja mais articulado em seus discursos, de maneira que até mesmo a sua confiança será impulsionada.

5. Desenvolvimento da memória

Quando você lê um livro (especialmente os grandes) precisa se lembrar de todos os personagens, seus pontos de vista, o contexto em que cada um está inserido e todos os desvios que a história sofreu. A boa notícia é que você pode utilizar isso a seu favor, fazendo dos livros um treino para a sua memória. Guardar essa quantidade de informações faz com que você esteja mais apto para se lembrar de eventos cotidianos.

6. Habilidade de pensamento crítico

Já leu um livro que prometia um mistério confuso e acabou por desvendá-lo antes mesmo do meio da história? Isso mostra a sua agilidade de pensamento e suas habilidades de pensamento crítico. Esse tipo de talento também é desenvolvido por meio da leitura. Portanto, quanto mais você lê, mais aumenta sua habilidade de estabelecer conexões.

7. Aumento de foco e concentração

O mundo agitado de hoje faz com que sua atenção seja dividida em várias partes, de modo que manter-se concentrado em apenas uma tarefa torna-se um desafio. Contudo, livros com histórias envolventes são capazes de desligar você do mundo ao redor, fazendo com que sua atenção esteja inteiramente voltada para o que acontece na trama. 

8. Habilidades de escrita

Esse tipo de habilidade anda lado a lado com a expansão do seu vocabulário. Assim como a leitura permite a você ser alguém mais articulado na fala, também vai ajuda-lo a colocar com mais clareza os seus pensamentos no papel. Isso vai dar a você a chance de produzir textos com mais qualidade, não apenas de vocabulário, como também correção gramatical e ideias mais ricas.

9. Tranquilidade

O fato de envolver você em uma história e livrá-lo do estresse cotidiano faz do livro uma ótima ferramenta para alcançar a paz interior. Nos momentos de estresse, procure se distrair do que acontece com uma história que atrai seu interesse. Isso vai acalmá-lo e ajudá-lo a melhorar seu humor.

10. Entretenimento a baixo custo

Muitas pessoas acreditam que o conceito de diversão está diretamente ligado aos altos custos de uma viagem ou mesmo de uma festa. Contudo, se você encontrar um livro que chame a sua atenção, poderá viajar sem sair da sua casa.

Fonte: Universia Brasil (adaptado)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

LEIA PARA UMA CRIANÇA - 2013



Receba gratuitamente livos de literatura infantil do projeto "Leia para uma criança" mantido pelo Itaú!


Corra peça logo a sua coleção! 

- A entrega é via correios para qualquer região do Brasil.
- O pedido é feito através do CPF sendo que pode pedir mais de uma coleção por morador da casa.

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Link geral

São dois livros:

O mundo inteiro
de Liz Garton Scalon e Marla Frazee

A praia deserta, a noite tranquila, o dia de chuva, a horta, a cozinha e a família reunida... O que seria o mundo inteiro? Leia para uma criança: esta obra com versos rimados retrata conceitos universais numa linguagem simples e delicada. Vencedor do prêmio Cadelcott Honor de melhor ilustração.






E o dente ainda doía
de Ana Terra

Um jacaré folgado e largado não consegue descansar por causa de uma tremenda dor dente. E mesmo com a ajuda de outros bichos... o dente ainda doía! Leia para uma criança: e descubra como essa divertida história brinca e educa com números em um ritmo gostoso de lenga-lenga.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Top 20 dos livros mais vendidos

Ficção

1.    A culpa é das estrelas - John Green

2.    Inferno - Dan Bronw


3.    O silêncio das montanhas - Khaled Hosseini


4.    Cidades de papel - John Green


5.    O teorema Katherine - John Green


6.    Cretino irresitível - Christina Lauren


7.    Um toque de vermelho - Sylvia Day


8.    Uma longa jornada - Nicholas Sparks


9.    Cidade dos ossos - Cassandra Clare


10.  Cinquenta Tons de Cinza – E.L. James


11.  O ladrão de raios - Rick Riordan


12.  Para sempre sua - Sylvia Day


13.  Intenso - Sylvia Day


14.  O Lado Bom da Vida – Matthew Quick


15.  Peça-me o que quiser - Megan Maxwell


16.  As Vantagens de Ser Invisível – Stephen Chbosy


17.  O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry


18.  Cinquenta Tons de Liberdade – E.L. James


19.  O mar de monstros - Rick Riordan


20.  Cinquenta Tons Mais Escuros – E.L. James


Os livros em negrito fazem parte do nosso acervo. Consulte o catálogo do SIBI (Sistema Integrado de Bibliotecas de São Carlos)


Fonte: Revista Veja

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As Bibliotecas por Valter Hugo Mãe


As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem  está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.

Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.

Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se  entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.

O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.

Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.

Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir. Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.

As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.

Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.

Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.

As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.

Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.

Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.

Fonte: Crônica de Valter Hugo Mãe, Jornal de Letras.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os pequenos livros das grandes coisas

Os títulos infanto-juvenis crescem, mas não se dedicam só aos jovens

O menino ficou amigo do passarinho, mas o passarinho morrera na varanda. Outro garoto matou o bichinho, que agora pia em seu coração. Estes argumentos carregados e violência e sexualidade orientam os livros de Bartolomeu Campos de Queirós e Wander Piroli. Suas histórias, intituladas Até Passarinho Passa (Moderna) e O Matador (Leitura), abrigam-se sob a categoria infanto-juvenil. Mas quem garante que um adulto não precisará delas?

A literatura infanto-juvenil é o mais sério caso entre as ficções brasileiras. Ela ultrapassa as fronteiras etárias e orienta a produção adulta. Faz seis décadas que somos aproximadamente o mesmo leitor desde a adolescência. Ou nos infantilizamos a ponto de exigir, dos escritores, a linguagem do início de nossas vidas, ou os jovens cresceram rápido demais e invadiram o terreno da imaginação adulta.

“Quando eu tinha 12 anos, não lia literatura infanto-juvenil. Eu lia Tchekov”, afirma Nelly Novaes Coelho, a mais respeitada teórica brasileira a abordar essa produção. “Depois de O Reizinho Mandão, da Ruth Rocha, disse ao meu marido que a ditadura acabaria logo, já que até a literatura juvenil zombava dela”, conta. Ela leu o livro em 1977 e o AI-5 foi revogado no ano seguinte.

Nelly crê que toda literatura obedece a um impulso criador ligado ao erotismo. Se o sexo está cerceado na sociedade, como no Brasil no início do século XX, a elaboração mental cresce. Solto o erotismo, não é preciso recorrer à extrema organização de ideias para se relacionar com o mundo.

“A literatura infantil hoje, ao contrário daquela de 40 anos atrás, está cheia de besteirol, mas deixa estar”, raciocina Nelly. “Vivemos uma transição esperando que um novo sistema, tão eficiente quanto aquele racional e literário, se imponha. A criança de hoje tem um mundo mágico à sua disposição, fundado em tecnologia. Vai ler por que? Na minha infância, havia muita literatura, mas a magia se reduzia ao Ford Bigode estacionado na rua.”

Para Nelly, de 87 anos, não se pode pensar em literatura, hoje, senão como uma tradição necessitada de incentivos escolares. Mas ocorre de os próprios professores não a conhecerem. A capacitação desses profissionais toma um enorme tempo na vida de um escritor como Luiz Raul Machado, que orienta grupos no Rio. É preciso que os professores aprendam a gostar de ler, ou a literatura morrerá, ele diz.

A batalha pela aquisição de leitores não tem trégua também no mercado editorial, já que as vultosas compras governamentais de títulos infanto-juvenis sustentam muitas casas publicadoras. A Câmara Brasileira do Livro informa que entre 2007 e 2008 os títulos para crianças com até 10 anos cresceram 14,02%. A partir de 11 anos, 41,88%. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, de 2007, é a mãe de família a principal responsável pela indicação dos livros a seus meninos com até 10 anos. Na faixa etária entre 11 e 13, a criança lê principalmente o que a escola exige. A partir dos 14 anos, escolhe. Mas lê menos do que antes.

Há quem ligue a perda desse leitor à simplificação promovida por educadores e editoras. “O conceito infanto-juvenil é questionável”, acredita Elisabeth Maggio, autora de O Senhor dos Pesadelos. “A ideia contida no conceito é que os jovens terão uma literatura mais fácil e digerível para estimulá-los a ler e que, com o tempo, farão a transição para uma literatura adulta. Mas nem sempre acontece assim. Os leitores acabam estacionando na tal da literatura de transição, e quando têm de ler o Machado de Assis pela primeira vez, é um choque.”

Milu Leite, finalista do Prêmio Jabuti por O Dia em Que Felipe Sumiu, condena a pressão por enquadrar a literatura como “mais uma maneira” de educar as crianças. “Essa pressão vem de algumas editoras, pais e escolas, não das crianças, os leitores.” Bartolomeu Campos de Queirós tem sua visão particular desse universo. “A sociedade confunde infância com o superficial, o raso, o vazio. Mas a infância é o lugar das perguntas, dos medos, das dúvidas, das alegrias, mas também das tristezas.”

O Nobel de Literatura Isaac Bashevis Singer, autor de Histórias para Crianças (Topbooks), enumerou em 1978 suas razões para escrever para esse público. “Na época de hoje, quando a literatura para adultos se deteriora, bons livros infantis são a única esperança, o único refúgio. Muitos adultos leem e apreciam livros infantis. Escrevemos não só para crianças como para seus pais. Eles, também são crianças sérias.”

Responsável por títulos destinados às escolas, Maristela Petrilli de Almeida Leite, da Editora Moderna, diz não discriminar temas, embora oriente a linguagem destinada a seus leitores. “O texto tem de ter qualidade e ser prazeroso. Não cai bem o palavrão. Se puder substituí-lo por outra expressão, o autor deve fazê-lo.”

Lilia Schwarcz iniciou, em 1992, a publicação de infantis pela Editora Companhia das Letras. Ela reconhecia a seriedade desse mercado e das publicações da área no Brasil, mas, mãe de crianças, achou por bem dar a face de sua editora aos títulos para jovens. Publicou os livros de Babette Cole, apresentou autores como Dr. Seuss, pediu ao ilustrador brasileiro Odilon Moraes para desenhar sem cores um clássico como Pinóquio, de Carlo Collodi. As ousadias ampliaram seu público.

Em uma livraria, títulos como esse Pinóquio ou Av. Paulista, de Carla Caffé, que integra a coleção Ópera Urbana, da Cosac Naify, podem confundir um leitor. Ele será uma criança se achar que aquele livro infanto-juvenil lhe foi destinado?

A confusão não ocorre por acaso. Em alguns casos, é estimulada. A editora Isabel Lopes Coelho quer que os livros da Cosac diluam as fronteiras entre adultos e pequenos. Não há outra maneira, a seu ver, de formar um bom leitor. Os livros da editora são especialmente pensados sob o aspecto do design, como se as categorias etárias se distinguissem também pelo repertório gráfico, absorvendo elementos da arquitetura ou do cinema conforme a idade avança.

“A literatura não tem destinatários, mas remetentes”, defende o autor Odilon Moraes, que ilustrou O Matador, obra capaz de entender a criança, antes de se adequar a ela. Moraes diz que é preciso derrubar o antigo conceito de livro infanto-juvenil, no qual a palavra manda. “A ilustração também é escrita, ajuda a contar uma história, seja qual for seu público”, ele defende. Em razão disso, crê que um novo conceito, o do Picture Book, livro com imagem, já muito comum entre crianças e adultos japoneses, chega para ficar. Nesta produção, concebida à moda de um roteiro cinematográfico, estaria contida a nova escrita para um vasto público, não só infantil. Seria este o sistema a substituir o racional e literário, esmagado pelo Ford Bigode de Nelly Novaes Coelho? O tempo, reizinho mandão, dirá.

Fonte: Revista Carta Capital, n. 562, 2009, Texto de Rosane Pavam

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um poeta cheio de caprichos

Só alguém que amou tanto a poesia como meu pai, Paulo Leminski, pode influenciar tanta gente até hoje.

A paixão pela linguagem, e a forma que embasava tudo que fazia são fruto de pelo menos duas paixões de meu pai: línguas e história. Pela primeira, ele entremeou universos linguísticos, pesquisando e encontrando similaridades entre as palavras que algumas gramáticas e muitas fronteiras teimavam um dia em se separar. A segunda causou um efeito de conexão entre a atualidade e a tradição. E atualidade eu digo do agora, pois, mesmo após mais de 20 anos de sua morte, sua obra é atual e ainda desperta muitos novos escritores. Isso eu sei bem, porque, quando estava no colégio, a poesia que meus pais faziam (e a dos poetas que estavam na estante deles) me interessava muito mais que a dos livros obrigatórios. Por sorte, de todos nós, muita coisa mudou de lá pra cá.

Ele reuniu seus primeiros escritos em um livro intitulado Caprichos & Relaxos e é justamente dele que vou destacar alguns poemas:

lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça

Já no título do livro ele declara o equilíbrio de sua obra entre o esmero tenso, a pesquisa intensa e o prazer de usufruir uma poesia sem pretensão. Ele representava muito essa relação entre os opostos, esses complementos contraditórios (ou não) que formam a personalidade de cada um. Seus poemas, e os rótulos que dão ao seu trabalho, sempre têm esses polos, do pop ao cult, caprichos e relaxos, a pressa e a preguiça. Mais uma vez múltiplo.

Vivem me perguntando o porquê da atualidade de seus versos. Como ele mesmo dizia: “Tem que ter por quê?” O que eu sei é que eles combinam com os nossos tempos: são diretos, concisos, contundentes, precisos, sintéticos, rápidos, muito inspirados, além do óbvio. Sobretudo, ele queria a poesia muito além do papel e em todos os suportes, outdoor, camisetas, arte de rua (através do grafite), no sarau. O máximo dito com o mínimo:

você para
a fim de ver
o que te espera

só uma nuvem
te separa

das estrelas

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

Muitas vezes seus poemas são reflexos do seu tempo, com referências a acontecimentos, autores e problemas sociais. O seguinte surgiu a partir de uma notícia de jornal que chamou a atenção da minha mãe, Alice Ruiz. Virou canção (letra e música) gravada pelo Caetano Veloso em 1981.

De repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste

de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana 
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana.

Ele era muito humorado, o que transparece em sua música e também na poesia, satirizando inclusive a sua condição de poeta:

eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões

em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois

Voltando às perguntas que me fazem: E como alguém pode despertar tanta paixão pela poesia como ele?

parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem 
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meus deus

eu sou o seu profeta

Viram só? Só alguém que amou tanto a poesia para poder influenciar tanto a gente. Essa é fácil.

Fonte: Revista Carta Fundamental, n. 48, maio 2013, Texto de Estrela Ruiz