sábado, 26 de novembro de 2016

YouTube ou Livros?

A questão da leitura em sala de aula, e também fora dela, sempre foi um problema para nós, professores, porque quem não se interessa em ler tem mais dificuldade para se interessar em estudar.

Na faculdade não se aprende estratégia para fazer o aluno se interessar por livros. Isso é uma coisa que cada professor precisa aprender por si - usar de toda a criatividade para fazer os alunos descobrirem que é importante ler de tudo, pois quem lê de tudo desenvolve a vontade de aprender mais.

Não existe uma fórmula mágica para fazer o aluno se apaixonar pelos livros. Contando um pouco da minha experiência, talvez inspire outros professores a terem ideias, também.

Os alunos mais jovens já estão acostumados com internet, já que com qualquer celular é possível acessar a rede. Estar conectado, para eles, é muito importante. Então, a palavra é interatividade. YouTube para eles, hoje em dia, é o máximo. Os youtubers, como eles dizem, que são jovens que falam de assuntos que interessam a eles, são como os galãs de telenovelas de antigamente.  Tudo que eles dizem viram moda.

Por isso, estudei esses youtubers e descobri que muitos deles gostam de ler. Então, comecei a pesquisar o que esses jovens comunicadores gostam de ler e tentei aplicar os mesmos livros, ou livros parecidos, na sala de aula. Deixei de lado um pouco a lista obrigatória dos livros paradidáticos e passei a usar livros que eram mais conhecidos por esse pessoal da internet - Também, passei a usar um pouco de histórias em quadrinhos, especialmente com os meninos, mas acabei descobrindo que muitas meninas também são fãs. Em alguns momentos, até usei celulares como maneira de deixar os alunos interessados pelos assuntos da aula.

E como eu falei, interatividade é um ponto forte. Os jovens gostam de interagir com quem fala como eles, pensa como eles. Então, nada melhor que fazê-los se expressar com essa mesma linguagem. A partir dos livros, e assistindo em aula aos vídeos dos youtubers, os alunos criaram suas próprias histórias e fizeram seus próprios programas de vídeo. Colocamos os vídeos na internet também, para que eles vivenciassem a mesma experiência de ser um youtuber. Com isso, o interesse pela aula cresceu demais.

Depois que o aluno passa a ser mais participativo na aula, ele estará mais aberto às propostas curriculares que o professor oferece. É um processo que não é rápido e não existe método certo. O método quem cria é cada professor, com base na sua vivência.

Fonte: Revista Literatura: Conhecimento Prático, edição 68, 2016, pág. 5, Texto de Josefa Batistelli.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

“Ler para uma criança é dizer ‘eu te amo’: diz pediatra

“As crianças não são, como se diz normalmente, um copo que precisa ser preenchido, mas sim um fogo que precisa ser atiçado”, a frase é da pesquisadora e escritora espanhola Ana Garralón, no livro “Ler e saber”, e faz pensar: como despertar na criança o interesse por determinadas preferências?

Nesse contexto, surgiu em 2015 a campanha “Receite um Livro”, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que também é incentivada pelo clube de assinatura de livros infantis Leiturinha, responsável por enviar, mensalmente, kits de livros para quase 20.000 pequenos leitores de todo o Brasil e implantar cantinhos de leitura nas salas de espera dos consultórios médicos, o ‘Espaço Leiturinha’.

A proposta é orientar pediatras de todo o país e receitarem livros para crianças de zero a seis anos, incluindo aquelas com deficiência, prematuras ou com problemas cognitivos. O objetivo? Investir no potencial da literatura como mediadora de questões ‘difíceis’ de tratar com as crianças.

Segundo os médicos, crianças leitoras têm mais desenvoltura para resolver demandas emocionais e mais desenvoltura para se relacionar. Para os especialistas, a leitura oferece um resultado ainda melhor em pequenos com alguma deficiência ou déficit de aprendizado, uma vez que a partir das histórias eles podem descobrir habilidades desconhecidas e se reconectar com suas capacidades cognitivas.

Por que ler?


Entender o papel dos livros no universo infantil pode ser uma questão controversa. Atualmente ensinada nas escolas no âmbito da língua portuguesa, a literatura dificilmente é associada à forma de arte que é, estimulando a leitura apenas dos textos e deixando de lado o potencial de leitura de imagens, muito rica para desenvolver conexões e abrir possibilidades de significação.  Seja como for, ninguém duvida do potencial dos livros para estimular a curiosidade dos pequenos e ampliar o seu repertório de mundo.

Para Fernanda Veiga, pedagoga responsável pela seleção dos livros enviados pela Leiturinha, “oferecer livros que acompanhem a etapa de desenvolvimento de cada criança é fundamental. A escolha dos livros adequados à idade didática dos pequenos exige um cuidado minucioso sempre atento ao que é ideal explorar naquele momento.”

Por isso, é importante ampliar o espectro do que se entende por ‘leitura’. Contar histórias oralmente, cantar narrativas, contar histórias para o bebê ainda na barriga, ler em voz alta, fazer leitura compartilhada: tudo isso configura o ato de ‘ler’ e tem um papel importante no estabelecimento dos vínculos afetivos entre a criança e a família, e também de uma criança com outra criança.

O médico e filósofo Antônio Pessanha Henriques Júnior, de Cajuru (SP), destaca que a explicação médica para o benefício da leitura envolve o sistema límbido, uma espécie de ‘gaveta’ onde o ser humano armazena os sentimentos. “O universo da leitura, e principalmente da contação de histórias conduzida por alguém apaixonado por leitura, tem um envolvimento na formação de caráter de cada criança. É provável que esta “gaveta” vire um “container”, que servirá como um banco de dados para toda uma vida. E é bem provável também que todos aqueles tidos como “hiperativos” ou sem atenção tenham seus diagnósticos mudados depois de uma boa leitura”, explica.


No primeiro ano de vida, por exemplo, os livros de pano, de banho, com texturas, cores e sons são os que mais despertam a atenção e causam estímulos sensoriais e motores positivos para o desenvolvimento do bebê. Na foto, pequenas leitoras que recebem o kit da Leiturinha.

O psicolinguista colombiano Evelio Cabrejo Parra, vice-presidente da organização Ações Culturais Contra as Exclusões e Segregações (ACCES), defende a leitura desde a primeira infância, a explica que ler é adquirir a capacidade da linguagem. “O bebê, ao nascer, já vem com a capacidade de escutar. Quando se lê para ele em voz alta ou se canta uma canção de ninar, ele se põe em posição de escuta. Isso quer dizer que está tratando de construir significado à sua maneira. Por isso, é necessário alimentar essas potencialidades desde o princípio da vida”, ressalta.

Fonte: Catraquinha

Presentes para a Biblioteca

O melhor livro para se doar é aquele que você presentearia um amigo. Recebemos vários desses presentes em nossa biblioteca. A equipe agradece carinhosamente pessoas maravilhosas e inesquecíveis como Ana Paula Gonçalves, Eliane de Oliveira Martins Gonçalves e Jaqueline Pane Migliati pelas doações. Obrigada! :)

Leitores, confiram alguns dos novos títulos e venham!!! Estamos esperando por vocês.


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Coleção Itaú Criança 2016


Oi pessoal, tudo bem?? 

Já está disponível no site do Itaú a nova Coleção Itaú Criança 2016! 

O títulos deste ano são "Maya e Selou", de Lara Meana e "Poeminhas da Terra", de Marcia Leite.
É grátis, não precisa ter conta no Itaú e você recebe a coleção em casa. Pratique e incentive a leitura você também... 

Basta acessar o site do Itaú Social.



Maya e Selou
De Lara Meana

Maya e Selou são duas crianças vizinhas que através de diferentes atividades do dia a dia – como acordar, comer, brincar, tomar banho e escutar histórias – inventam vários mundos fantásticos.     



Poeminhas da Terra
De Marcia Leite

Diferentes versos compostos por palavras de origem tupi celebram a convivência do homem com a natureza. “Poeminhas da terra” aproxima as crianças da cultura dos povos indígenas.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Biblioteca Euclides da Cunha na Revista Kappa edição 120, set. 2016

Olá leitores... Tudo bem?

Viemos contar um novidade... Nossa querida biblioteca ❤ foi tema de matéria da Revista Kappa, edição 120 desse mês...
Não é o máximo?
Ainda não viu? Então confira e se alegre conosco!!




quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Doação de livros para a Biblioteca

Olá pessoal,

Recebemos vários livros de doação do nosso leitor e amigo Rafael Schiabel. Ficamos muito contentes. Vejam alguns dos títulos e venham na Biblioteca retirá-los. 

Obrigada Rafael , nossa equipe agradece a gentileza para com nossos leitores e a Biblioteca...

domingo, 20 de março de 2016

Neil Gaiman: Por que nosso futuro depende de bibliotecas, de leitura e de sonhar acordado

Uma palestra que explica porque usar nossa imaginação e providenciar para que outros utilizem as suas, é uma obrigação de todos os cidadãos

Pelo The Guardian, em 15 out. 2013
Neil Gaiman

“Temos a obrigação de imaginar…” 
Neil Gaiman dá uma palestra anual à Reading Agency 
sobre o futuro da leitura e das bibliotecas. 
É importante para as pessoas dizerem de que lado estão e porque, e se elas podem ou não ser tendenciosas. Um tipo de declaração de interesse dos membros. Então conversarei com vocês sobre leitura. Direi à vocês que as bibliotecas são importantes. Vou sugerir que ler ficção, que ler por prazer, é uma das coisas mais importantes que alguém pode fazer. Vou fazer um apelo apaixonado para que as pessoas entendam o que as bibliotecas e os bibliotecários são e para que preservem ambos.

E eu sou óbvia e enormemente tendencioso: sou um escritor, muitas vezes um autor de ficção. Escrevo para crianças e adultos. Por cerca de 30 anos tenho ganhado a minha vida através das minhas palavras, principalmente por inventar as coisas e escrevê-las. Obviamente está em meu interesse que as pessoas leiam, que elas leiam ficção, que bibliotecas e bibliotecários existam para nutrir amor pela leitura e lugares onde a leitura possa ocorrer.

Então sou tendencioso como escritor. Mas eu sou muito, muito mais tendencioso como leitor. E sou ainda mais tendencioso enquanto cidadão britânico.

E estou aqui dando essa palestra hoje a noite sob os auspícios da Reading Agency: uma instituição filantrópica cuja missão é dar a todos as mesmas oportunidades na vida, ajudando as pessoas a se tornarem leitores entusiasmados e confiantes. Que apoia programas de alfabetização, bibliotecas e indivíduos e arbitrária e abertamente incentiva o ato da leitura. Porque, eles nos dizem, tudo muda quando lemos.

E é sobre essa mudança e este ato de leitura que quero falar hoje a noite. Eu quero falar sobre o que a leitura faz. O porquê de ela ser boa.

Uma vez eu estava em Nova York e ouvi uma palestra sobre a construção de prisões particulares – uma ampla indústria em crescimento nos Estados Unidos. A indústria de prisões precisa planejar o seu futuro crescimento – quantas celas precisarão? Quantos prisioneiros teremos daqui 15 anos? E eles descobriram que poderiam prever isso muito facilmente, usando um algoritmo bastante simples, baseado em perguntar a porcentagem de crianças entre 10 e 11 anos que não conseguiam ler. E certamente não conseguiam ler por prazer.

Não é um pra um: você não pode dizer que uma sociedade alfabetizada não tenha criminalidade. Mas existem correlações bastante reais.

E eu acho que algumas destas correlações, a mais simples, vem de algo muito simples. Pessoas alfabetizadas leem ficção.

A ficção tem duas utilidades. Primeiramente, é uma droga que é uma porta para leituras. O desejo de saber o que acontece em seguida, de querer virar a página, a necessidade de continuar, mesmo que seja difícil, porque alguém está em perigo e você precisa saber como tudo vai acabar… Este é um desejo muito real. E te força a aprender novos mundos, a pensar novos pensamentos, a continuar. Descobrir que a leitura por si é prazerosa. Uma vez que você aprende isso, você está no caminho para ler de tudo. E a leitura é a chave. Houve um burburinho brevemente há alguns anos atrás sobre a ideia de que estávamos vivendo em um mundo pós-alfabetizado, no qual a habilidade de fazer sentido através de palavras escritas estava de alguma forma redundante, mas esses dias acabaram: as palavras são mais importantes do que jamais foram: nós navegamos o mundo com palavras, e uma vez que o mundo desliza para a web, precisamos seguir, comunicar e compreender o que estamos lendo. As pessoas que não podem entender umas às outras não podem trocar idéias, não podem se comunicar e apenas programas de tradução vão tão longe.

A forma mais simples de ter certeza de que educamos crianças alfabetizadas é ensiná-los a ler, e mostrarmos a eles que a leitura é uma atividade prazerosa. E isso significa, na sua forma mais simples, encontrar livros que eles gostem, dar a eles acesso a estes livros e deixar que eles os leiam.

Eu não acho que exista algo como um livro ruim para crianças. Vez e outra se torna moda entre alguns adultos escolher um subconjunto de livros para crianças, um gênero, talvez, ou um autor e declará-los livros ruins, livros que as crianças devem parar de ler. Eu já vi isso acontecer repetidamente; Enid Blyton foi declarado um autor ruim, R. L. Stine também, assim como dúzias de outros. Quadrinhos tem sido acusados de promover o analfabetismo.

É tosco. É arrogante e é burro. Não existem autores ruins para crianças, que as crianças gostem e querem ler e buscar, porque cada criança é diferente. Eles podem encontrar as histórias que precisam, e eles levam a si mesmos nas histórias. Uma ideia banal e desgastada não é banal nem desgastada para eles. Esta é a primeira vez que a criança a encontrou. Não desencoraje uma criança de ler porque você acha que o que eles estão lendo é errado. A ficção que você não gosta é uma rota para outros livros que você pode preferir. E nem todo mundo tem o mesmo gosto que você.

Adultos bem intencionados podem facilmente destruir o amor de uma criança pela leitura: parar de ler pra eles o que eles gostam, ou dar a eles livros ‘chatos mas que valem a pena’ que você gosta, os equivalentes “melhorados” da literatura Vitoriana do século XXI. Você acabará com uma geração convencida de que ler não é legal e pior ainda, desagradável.

Precisamos que nossas crianças entrem na escada da leitura: qualquer coisa que eles gostarem de ler irá movê-las, degrau por degrau, à alfabetização. (Além disso, não faça o que eu fiz quando a minha filha de 11 anos estava gostando de ler R. L. Stine, que foi pegar uma cópia de Carrie do Stephen King e dizer que se você gosta deste, adorará isto! Holly não leu nada além de histórias seguras de colonos em pradarias pelo resto de sua adolescência e até hoje me dá olhares tortos quando o nome de Stephen King é mencionado).

E a segunda coisa que a ficção faz é construir empatia. Quando você assiste TV ou vê um filme, você está olhando para coisas acontecendo a outras pessoas. Ficção de prosa é algo que você constrói a partir de 26 letras e um punhado de sinais de pontuação, e você, você sozinho, usando a sua imaginação, cria um mundo e o povoa e olha através dos olhos de outros. Você sente coisas, visita lugares e mundos que você jamais conheceria de outro modo. Você aprende que qualquer outra pessoa lá fora é um eu, também. Você está sendo outra pessoa e quando você volta ao seu próprio mundo, você estará levemente transformado.

Empatia é uma ferramenta para tornar pessoas em grupos, que nos permite que funcionemos como mais do que indivíduos obcecados consigo mesmos.

Você também está descobrindo algo enquanto lê que é de vital importância para fazer o seu caminho no mundo. E é isto:

O mundo não precisa ser assim. As coisas podem ser diferentes.

Outra forma de destruir o amor de uma criança pela leitura, claro, é se assegurar de que não existam livros de nenhum tipo por perto. E não dar a elas nenhum lugar para que leiam estes livros. Eu tive sorte. Eu tive uma biblioteca local excelente enquanto eu cresci. Eu tive o tipo de pais que podiam ser persuadidos a me deixar na biblioteca no caminho do trabalho deles nas férias de verão, e o tipo de bibliotecários que não se importavam que um menino pequeno e desacompanhado ficasse na biblioteca das crianças todas as manhãs e ficasse mexendo no catálogo de cartões, procurando por livros com fantasmas ou mágica ou foguetes neles, procurando por vampiros ou detetives ou bruxas ou fantasias. E quando eu terminei de ler a biblioteca de crianças eu comecei a de adultos.

Eles eram ótimos bibliotecários. Eles gostavam de livros e eles gostavam dos livros que estavam sendo lidos. Eles me ensinaram como pedir livros das outras bibliotecas em empréstimo inter-bibliotecas. Eles não eram arrogantes em relação a nada que eu lesse. Eles pareciam apenas gostar do fato de existir esse menininho de olhos arregalados que amava ler e conversariam comigo sobre os livros que eu estava lendo, achariam pra mim outros livros em uma série deles, eles me ajudariam. Eles me tratavam como outro leitor – nem mais, nem menos – o que significa que eles me tratavam com respeito. Eu não estava acostumado a ser tratado com respeito aos oito anos de idade.

Mas as bibliotecas tem a ver com liberdade. A liberdade de ler, a liberdade de ideias, a liberdade de comunicação. Elas tem a ver com educação (que não é um processo que termina no dia que deixamos a escola ou a universidade), com entretenimento, tem a ver com criar espaços seguros e com o acesso à informação.

Eu me preocupo que no século XXI as pessoas entendam errado o que são bibliotecas e qual é o propósito delas. Se você perceber uma biblioteca como estantes com livros, pode parecer antiquado e datado em um mundo no qual a maioria, mas não todos, os livros impressos existem digitalmente. Mas pensar assim é errar o ponto fundamentalmente.

Eu acho que tem a ver com a natureza da informação. A informação tem valor, e a informação certa tem um enorme valor. Por toda a história humana, nós vivemos em escassez de informação e ter a informação desejada era sempre importante, e sempre valia alguma coisa: quando plantar sementes, onde achar as coisas, mapas e histórias e estórias – eles eram sempre bons para uma refeição e companhia. Informação era uma coisa valorosa, e aqueles que a tinham ou podiam obtê-la podiam cobrar por este serviço.

Nos últimos anos, nos mudamos de uma economia de escassez da informação para uma dirigida por um excesso de informação. De acordo com o Eric Schmidt do Google, a cada dois dias agora a raça humana cria tanta informação quanto criávamos desde o início da civilização até 2003. Isto é cerca de cinco exobytes de dados por dia, para vocês que mantém a contagem. O desafio se torna não encontrar aquela planta escassa crescendo no deserto, mas encontrar uma planta específica crescendo em uma floresta. Precisaremos de ajuda para navegar nesta informação e achar a coisa que precisamos de verdade.

Bibliotecas são lugares que pessoas vão para obter informação. Livros são apenas a ponta do iceberg da informação: eles estão lá, e bibliotecas podem fornecer livros gratuitamente e legalmente. Crianças estão emprestando livros de bibliotecas hoje mais do que nunca – livros de todos os tipos: de papel e digital e em áudio. Mas as bibliotecas também são, por exemplo, lugares onde pessoas que não tem computadores, que podem não ter conexão à internet, podem ficar online sem pagar nada: o que é imensamente importante quando a forma que você procura empregos, se candidata para entrevistas ou aplica para benefícios está cada vez mais migrando para o ambiente exclusivamente online. Bibliotecários podem ajudar estas pessoas a navegar neste mundo.

Eu não acredito que todos os livros irão ou devam migrar para as telas: como Douglas Adams uma vez me falou, mais de 20 anos antes do Kindle aparecer, um livro físico é como um tubarão. Tubarões são velhos: existiam tubarões nos oceanos antes dos dinossauros. E a razão de ainda existirem tubarões é que tubarões são melhores em serem tubarões do que qualquer outra coisa que exista. Livros físicos são durões, difíceis de destruir, resistentes à banhos, operam a luz do sol, ficam bem na sua mão: eles são bons em serem livros, e sempre existirá um lugar para eles. Eles pertencem às bibliotecas, bem como as bibliotecas já se tornaram lugares que você pode ir para ter acesso à ebooks, e audio-livros e DVDs e conteúdo na web.

Uma biblioteca é um lugar que é um repositório de informação e dá a cada cidadão acesso igualitário a ele. É um espaço comunitário. É um lugar de segurança, um refúgio do mundo. É um lugar com bibliotecários. Como as bibliotecas do futuro serão é algo que deveríamos estar imaginando agora.

Alfabetização é mais importante do que nunca, nesse mundo de mensagens e e-mail, um mundo de informação escrita. Precisamos ler e escrever, precisamos de cidadãos globais que possam ler confortavelmente, compreender o que estão lendo, entender as nuances e se fazer entender.

As bibliotecas realmente são os portais para o futuro. É tão lamentável que, ao redor do mundo, nós observemos autoridades locais apropriarem-se da oportunidade de fechar bibliotecas como uma maneira fácil de poupar dinheiro, sem perceber que eles estão roubando do futuro para serem pagos hoje. Eles estão fechando os portões que deveriam ser abertos.

De acordo com um estudo recente feito pela Organisation for Economic Cooperation and Development, a Inglaterra é "[...] o único país onde o grupo de mais idade tem mais proficiência tanto em alfabetização quanto em capacidade de usar ou entender as técnicas numéricas da matemática do que o grupo mais jovem, depois de outros fatores, tais como gênero, perfis sócio-econômicos e tipo de ocupações levados em consideração”.

Colocando de outro modo, nossas crianças e netos são menos alfabetizados e menos capazes de utilizar técnicas de matemática do que nós. Eles são menos capazes de navegar o mundo, de entendê-lo e de resolver problemas. Eles podem ser mais facilmente enganados e iludidos, serão menos capazes de mudar o mundo em que se encontram, ser menos empregáveis. Todas essas coisas. E como um país, a Inglaterra ficará para trás em relação a outras nações desenvolvidas porque faltará mão de obra especializada.

Livros são a forma com a qual nós nos comunicamos com os mortos. A forma que aprendemos lições com aqueles que não estão mais entre nós, que a humanidade se construiu, progrediu, fez com que o conhecimento fosse incremental ao invés de algo que precise ser reaprendido, de novo e de novo. Existem contos que são mais velhos que alguns países, contos que sobreviveram às culturas e aos prédios nos quais eles foram contados pela primeira vez.

Eu acho que nós temos responsabilidades com o futuro. Responsabilidades e obrigações com as crianças, com os adultos que essas crianças se tornarão, com o mundo que eles habitarão. Todos nós – enquanto leitores, escritores, cidadãos – temos obrigações. Pensei em tentar explicitar algumas dessas obrigações aqui.

Eu acredito que temos uma obrigação de ler por prazer, em lugares públicos e privados. Se lermos por prazer, se outros nos verem lendo, então nós aprendemos, exercitamos nossas imaginações. Mostramos aos outros que ler é uma coisa boa.

Temos a obrigação de apoiar bibliotecas. De usar bibliotecas, de encorajar outras pessoas a utilizarem bibliotecas, de protestar contra o fechamento de bibliotecas. Se você não valoriza bibliotecas então você não valoriza informação ou cultura ou sabedoria. Você está silenciando as vozes do passado e você está prejudicando o futuro.

Temos a obrigação de ler em voz alta para nossas crianças. De ler pra elas coisas que elas gostem. De ler pra elas histórias das quais já estamos cansados. Fazer as vozes, fazer com que seja interessante e não parar de ler pra elas apenas porque elas já aprenderam a ler sozinhas. Use o tempo de leitura em voz alta para um momento de aproximação, como um tempo onde não se fique checando o telefone, quando as distrações do mundo são postas de lado.

Temos a obrigação de usar a linguagem. De nos esforçarmos: descobrir o que as palavras significam e como empregá-las, nos comunicarmos claramente, de dizer o que estamos querendo dizer. Não devemos tentar congelar a linguagem, ou fingir que é uma coisa morta que deve ser reverenciada, mas devemos usá-la como algo vivo, que flui, que empresta palavras, que permite que significados e pronúncias mudem com o tempo.

Nós escritores – e especialmente escritores para crianças, mas todos os escritores – temos uma obrigação com nossos leitores: é a obrigação de escrever coisas verdadeiras, especialmente importantes quando estamos criando contos de pessoas que não existem em lugares que nunca existiram – entender que a verdade não está no que acontece mas no que ela nos diz sobre quem somos. A ficção é a mentira que diz a verdade, afinal. Temos a obrigação de não entediar nossos leitores, mas fazê-los sentir a necessidade de virar as páginas. Uma das melhores curas para um leitor relutante, afinal, é uma estória que eles não são capazes de parar de ler. E enquanto nós precisamos contar a nossos leitores coisas verdadeiras e dar a ele armas e dar a eles armaduras e passar a eles qualquer sabedoria que recolhemos em nossa curta estadia nesse mundo verde, nós temos a obrigação de não pregar, não ensinar, não forçar mensagens e morais pré-digeridas goela abaixo em nossos leitores como pássaros adultos alimentando seus bebês com vermes pré-mastigados; e nós temos a obrigação de nunca, em nenhuma circunstância, escrever nada para crianças que nós mesmos não gostaríamos de ler.

Temos a obrigação de entender e reconhecer que enquanto escritores para crianças nós estamos fazendo um trabalho importante, porque se nós estragarmos isso e escrevermos livros chatos que distanciam as crianças da leitura e de livros, nós estaremos menosprezando o nosso próprio futuro e diminuindo o deles.

Todos nós – adultos e crianças, escritores e leitores – temos a obrigação de sonhar acordado. Temos a obrigação de imaginar. É fácil fingir que ninguém pode mudar coisa alguma, que estamos num mundo no qual a sociedade é enorme e que o indivíduo é menos que nada: um átomo numa parede, um grão de arroz num arrozal. Mas a verdade é que indivíduos mudam o seu próprio mundo de novo e de novo, indivíduos fazem o futuro e eles fazem isso porque imaginam que as coisas podem ser diferentes.

Olhe à sua volta: eu falo sério. Pare por um momento e olhe em volta da sala em que você está. Eu vou dizer algo tão óbvio que a tendência é que seja esquecido. É isto: que tudo o que você vê, incluindo as paredes, foi, em algum momento, imaginado. Alguém decidiu que era mais fácil sentar numa cadeira do que no chão e imaginou a cadeira. Alguém tinha que imaginar uma forma que eu pudesse falar com vocês em Londres agora mesmo sem que todos ficássemos tomando uma chuva. Este quarto e as coisas nele, e todas as outras coisas nesse prédio, esta cidade, existem porque, de novo e de novo e de novo as pessoas imaginaram coisas.

Temos a obrigação de fazer com que as coisas sejam belas. Não de deixar o mundo mais feio do que já encontramos, não de esvaziar os oceanos, não de deixar nossos problemas para a próxima geração. Temos a obrigação de limpar tudo o que sujamos, e não deixar nossas crianças com um mundo que nós desarrumamos, vilipendiamos e aleijamos de forma míope.

Temos a obrigação de dizer aos nossos políticos o que queremos, votar contra políticos ou quaisquer partidos que não compreendem o valor da leitura na criação de cidadãos decentes, que não querem agir para preservar e proteger o conhecimento e encorajar a alfabetização. Esta não é uma questão de partidos políticos. Esta é uma questão de humanidade em comum.

Uma vez perguntaram a Albert Einstein como ele poderia tornar nossas crianças inteligentes. A resposta dele foi simples e sábia. “Se você quer que crianças sejam inteligentes”, ele disse, “leiam contos de fadas para elas. Se você quer que elas sejam mais inteligentes, leia mais contos de fadas para elas”. Ele entendeu o valor da leitura e da imaginação. Eu espero que possamos dar às nossas crianças um mundo no qual elas possam ler, e que leiam para elas, e imaginar e compreender.

Esta é uma versão editada da palestra do Neil Gaiman para a Reading Agency, realizada dia 14 de outubro de 2013 (segunda-feira) no Barbican em Londres. A série anual de palestras da Reading Agency começou em 2012 como uma plataforma para que escritores e pensadores compartilhassem ideias originais e desafiadoras sobre a leitura e as bibliotecas.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Ler nos torna mais felizes

Os leitores estão mais contentes e satisfeitos que os não leitores, de modo geral são menos agressivos e mais otimistas, diz estudo

A leitura nos torna mais felizes e nos ajuda a enfrentar melhor a nossa existência. Os leitores vivem mais contentes e satisfeitos do que os não leitores, e são, em geral, menos agressivos e mais otimistas”. A afirmação é dos responsáveis por uma análise efetuada recentemente pela Universidade de Roma III a partir de entrevistas com 1.100 pessoas. Aplicando índices como o da medição da felicidade de Vennhoven e escalas como a Diener para medir o grau de satisfação com a vida, os pesquisadores chegaram a essas conclusões, que demonstram, como afirma Nuccio Ordine, autor do manifesto A Utilidade do Inútil, que “alimentar o espírito pode ser tão importante quanto alimentar o corpo”. E que precisamos, bem mais do que se imagina, dessas experiências e conhecimentos que não se traduzem em benefícios econômicos.

Julio Cortázar, buscando livros em Paris.
Pierre Boulat (Getty)
Como nos sentimos e quais mudanças experimentamos ao mergulhar em uma história? Há um efeito transformador? Os protagonistas das ficções nos levam a que enxerguemos as nossas contradições e nossos desejos? Fazem com que nos recordemos de coisas essenciais, talvez esquecidas?

A ciência possui cada vez mais recursos para responder a essas perguntas. Artigos publicados em revistas especializadas expõem resultados de ressonâncias magnéticas que revelam a alta conectividade que se estabelece no sulco central do cérebro, região do motor sensorial primário, e no córtex temporal esquerdo, área associada à linguagem, enquanto lemos um livro e depois de acaba-lo.

O estresse se reduz e a inteligência emocional sai ganhando, assim como o desenvolvimento psicossocial, o autoconhecimento e o cultivo da empatia, segundo uma equipe de neurocientistas da Universidade de Emory, em Atlanta, que monitoraram as reações de 21 estudantes durante 19 dias seguidos. A leitura pode até mesmo alterar comportamentos por meio da identificação com os protagonistas das histórias lidas, defende Keith Oatley, romancista e professor de Psicologia Cognitiva da Universidade de Toronto.

É muito custoso, para nós, colocarmo-nos no lugar do outro no dia a dia, mas quantas vezes já não nos colocamos na pele de um personagem de romance? Criamos uma empatia com ele, e isso nos ajuda a compreender melhor os sinais emitidos pelos outros”, argumenta Antonella Fayer, psicóloga e coach especializada no desenvolvimento de liderança, para quem “as lições sobre dilemas morais e emocionais que encontramos na literatura são necessárias para todas as pessoas, e muito especialmente para líderes e políticos, que estão convencidos de que não têm tempo. Atuam, avaliam e fazem discursos, mas seria conveniente para eles mesmos se conseguissem parar um pouco e fazer leituras para melhorar a sua compreensão dos outros”, assinala Fayer, fazendo uma alusão às palavras de Alan Brew, ex-editor do Financial Times: “Ler os grandes autores faz de você uma pessoa mais bem preparada para tomar decisões criativas, interessantes e educadas”.

O convencimento quanto aos benefícios gerados pela leitura é o que move a School of Life, um centro londrino de biblioterapia que prescreve livros para ajudar na superação de conflitos (rupturas, disputas...). Como diz o filósofo Santiago Alba Rico, autor de Leer con niños (Ler com crianças), um ensaio que estimula no país o prazer de compartilhar histórias com seus filhos, a leitura, como a paixão, é um “vício virtuoso”. Quando conhecemos o bem que ela nos proporciona, não conseguimos deixar de praticá-la. Voltemo-nos, portanto, para a literatura, como convidava Cortázar, “como se vai aos encontros mais essenciais da existência, como se vai ao encontro do amor e às vezes da morte, sabendo que fazem parte de um todo indissolúvel e que um livro começa e termina muito antes e muito depois de sua primeira e de sua última página”.

Fonte: El País, Texto de Emma Rodríguez, 2 fev. 2016.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Editora lança coleção de livros “Antiprincesas” com histórias reais de mulheres inspiradoras

As meninas de hoje conhecem tantas histórias de princesas que muitas vezes acabam pensando que são uma delas. Mas não seria genial se essas pequenas mulheres também fossem apresentadas às histórias de vida de mulheres inspiradoras e pioneiras? Essa é a proposta de uma nova coleção de livros infantis.

Com o nome de “Antiprincesas“, a coleção já conta com dois livros publicados. O primeiro deles conta a história da artista Frida Kahlo, enquanto o segundo foi dedicado à chilena Violeta Parra. A proposta é continuar apresentando mais histórias sobre a vida de mulheres latino-americanas que foram protagonistas em suas áreas. Por isso, o terceiro livro será dedicado a Juana Azurduy, militar que participou nas lutas pela independência da América espanhola.

As publicações são da editora Chirimbote e os dois livros publicados são de autoria de Nadia Fink. Inspirar as meninas e mostrar que elas podem ser muito mais do que princesas é um dos motes da coleção, que busca mostrar um modelo de mulher bem diferente do que é estereotipado pelas princesas da Disney. O único porém é que os livros ainda não estão disponíveis em português.




Fonte: Hypeness