quinta-feira, 20 de junho de 2013

Irmãos

Imaginem um menino. Um menino qualquer, nem gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem bonito nem feio, mas de uma inteligência aguda e de olhos bem grandes, abertos para o mundo, todos os mundos. Ele era assim. Filho único, era capaz de ficar horas a fio trancado no quarto lendo, pois tinha nos livros seus grandes companheiros. Não que fosse um menino solitário, isto não. Tinha amigos, jogava bola, namorava. Mas ler era um prazer especial, que desfrutava com avidez.

Começara com Alice, mas logo enveredara por outros mundos, igualmente fantásticos, para os quais se transportava. Tarzan, a feiticeira Ela, Sherlock Holmes, tantos, tantos. Em seu quarto, armara uma pequena estante, que em pouco tempo já estava superlotada de livros. Romances, poesia, biografias, dicionários, tudo. Tratava os livros com reverência, sem que nunca ninguém lhe ensinasse a agir assim.

Com o passar dos anos, sua vida foi mudando. Cresceu. Mudou de casa, de cidade, de país. Foi e voltou, casou e descasou, ganhou e perdeu, rolou e rolou pela vida como quase todos nós e, com essas transformações, sua biblioteca de menino foi desaparecendo. Mesmo os livros mais antigos, os primeiros, aqueles que mais amava e dos quais se recordava de forma aguda, se perderam.

Novamente, os anos passaram.

Até que um dia, muito tempo depois, estava ele num sebo, examinando aquelas prateleiras coloridas que transpiram vida - como sempre acontece com as prateleiras de um sebo -, quando seus olhos se prenderam a uma lombada. Sentiu uma onda de prazer, o reconhecimento imediato. Alcançou o livro e puxou. Viu-se com um pedaço da própria infância nas mãos. Era um exemplar igual - mesma capa, mesma editora, mesma edição, tudo - ao que tivera em criança. Folheou as primeiras páginas imaginando encontrar seu próprio nome escrito a caneta tinteiro (pois sempre escrevia o nome nos livros), mas o que encontrou foi outro nome. De outro menino, quem sabe igual a ele, apaixonado por livros. Porque os meninos apaixonados por livros tratam bem seus volumes e aquele estava muito bem conservado.

Daquele dia em diante, não parou mais. Passou a andar pelos sebos buscando seus livros de infância. Tinha a secreta esperança de um dia abrir um deles e encontrar o próprio nome, mas isso nunca aconteceu. Não se importou. Encontrava outros nomes e sentia-se irmanado àqueles que um dia foram meninos como ele e que, como ele, amaram os livros desde cedo. E foi assim que esse menino- homem, sendo filho único, ganhou dezenas de irmãos.

Fonte: Revista Nova Escola, Texto de Heloisa Seixas.

domingo, 16 de junho de 2013

Dica de leitura!


Cem anos de Solidão
Autor: Gabriel García Márquez
 
Cem anos de Solidão é a obra-prima do escritor colombiano, Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982. Embora a história dos Buendía – a estirpe de solitárias para a qual não seria dada uma segunda oportunidade na Terra -  se passe na fictícia Macondo, o livro tem todo o clima da Colômbia. O realismo fantástico que definiu o autor é reflexo de uma cultura baseada no misticismo. O maravilhoso, segundo o próprio García Márquez, alipas, veio de uma tentativa de ele reproduzir o jeito com que sua avó, Tranquilina, contava-lhe histórias fantásticas como se fizessem parte da realidade.
 
Fonte: Educar Para Crescer

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Os livros preferidos dos intelectuais brasileiros

Jorge Amado está entre os autores mais escolhidos.
Foto: Beatriz Montesanti
Biblioteca temporária apresenta 10.000 sugestões de leitura.

O que Ricardo Abramovay, Jô Soares, Fernanda Montenegro e Luiz Paulo Horta têm em comum? Todos consideram Guerra e Paz, de Liev Tolstói um dos melhores livros que já leram. Essa e outras recomendações de leituras dadas por grandes personalidades podem ser conferidas em uma biblioteca diferente, montada no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.

O projeto é da diretora e cenógrafa Bia Lessa e consiste em uma grande exposição, aberta ao público, que aproveita o contexto de debate sobre sustentabilidade no Rio de Janeiro para ressaltar o importante papel exercido pela sociedade brasileira. Atores, escritores, políticos, filósofos, jornalistas e músicos ocuparam as estantes com suas leituras favoritas.
Tem para todos os gostos: para os acadêmicos, a prateleira de Fernando Henrique Cardoso introduz a vasta obra político-econômica brasileira e internacional, como História Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior e O Capital, de Karl Marx. Ou você pode se deliciar com as escolhas de Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, que selecionou boa parte da obra de Jorge Amado. Aliás, o escritor baiano, que comemorou seu centenário em 2012, foi um dos mais lembrados, transitando pelas listas dos mais diferentes tipos de leitores.

Ao todo, são 10.000 títulos escolhidos por 120 personalidades. Descobrem-se, entre as obras, os autores que serviram de influência e inspiração para Criolo, Rodrigo Santoro, Marina Silva ou Caetano Veloso. Criolo selecionou títulos como A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm, A nervura do real, de Marilena Chauí e Quincas Borbas, de Machado de Assis. Já entre os preferidos do ator Rodrigo Santoro, encontrava-se Ulysses, de James Joyce, O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse e Grande Sertões: Veredas, de Guimarães Rosa.  A vasta obra de Sigmund Freud enfileirava-se no espaço destinado a Marina Silva e não é de se espantar, encontrar Não, de Augusto de Campos, entre os livros de Caetano Veloso.

Para aqueles em busca de uma boa dica de leitura ou que queiram conhecer melhor ídolos nacionais, vale conferir a lista completa dos livros recomendados por cada personalidade aqui.  

Fonte: Educar para Crescer, Texto de Beatriz Montesanti. (adaptado)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Disciplina não é obrigação

Principalmente nos corridos dias de hoje, em que tanto se tem a fazer com tão pouco tempo de prazer, ler é um ato que exige disciplina. É necessário dedicar uma hora do dia, um tempo da aula, uma passada na livraria, uma parada na biblioteca.

E precisa iniciativa. Ler é bem diferente de assistir à TV. Todos nós estamos muito acostumados aos estímulos fáceis. Mas com o livro não é assim. Nós temos de ir atrás dele, abrir, ler, aceitar, rejeitar. "O livro tem um ritmo mais humano", afirma Eva Furnari, uma das autoras de livros infantis mais importantes do Brasil. É por essas e por outras que o contestador Ziraldo causa polêmica com a frase "ler é mais importante que estudar". Para ele e para tantas outras pessoas, o que bagunça essa relação de prazer é a obrigatoriedade. "Tem de parar com essa história de que ler é dever", diz Ziraldo. Eva Furnari observa outro lado. "Não acho ruim a criança ser obrigada a ler quatro livros por ano. O problema, às vezes, está na adequação do livro ou nas formas de avaliação." Para Maria José Nóbrega, educadora, o papel do adulto é adequar orientação a liberdade. Ou seja: a criança precisa ser encaminhada até que ela mesma possa fazer suas escolhas também. "No caso de uma leitura mais difícil - e é bom que seja, pois sem desafios a criança não sai do lugar - o professor deve acompanhar, ler junto, conversar sobre."

O escritor, pesquisador e ilustrador Ricardo Azevedo vê outro nó nessa história. Quando a literatura infantil foi incorporada à escola, passou-se a procurar nela uma utilidade direta e objetiva. E, pior: crescemos assim, e não faltam por aí adultos procurando função para a ficção e para a poesia. Mas toda a arte - no caso, a literatura - trata dos temas que ninguém pode ensinar. "Todos os tipos de livros são importantes, mas é preciso diferenciá-los. Imagine que uma criança pressuponha que todos os livros, no fundo, sejam didáticos. Ela vai ler um de poesia partindo da mesma premissa de que está estudando e se vê obrigada a captar, entender, aprender uma lição", diz Ricardo. E será que assim, procurando utilidade para tudo, alguém aprende a gostar de ler?

Fonte: Revista Crescer, Texto de Cristiane Rogerio e Marina Vidigal.