domingo, 26 de outubro de 2014

Coleção Itaú de Livros Infantis - 2014

Leia para uma criança
#issomudaomundo

É com essa mensagem que o Itaú dá início a campanha "Leia para uma criança" 2014. Confira os títulos selecionados este ano e corra garantir a sua! 

Gato pra cá, rato pra lá
De Sylvia Orthof

Se alguém for procurar uma grande história, neste livro, não vai encontrar. Ele resolveu escolher o caminho do singelo, e livro, se a gente não deixar ele ser como ele cisma, fica amarrado. Acho que esta história é pra ler pouco e imaginar muito.







Papai!
De Philippe Corentin

À noite, criança dorme? Nem sempre. Às vezes, na hora do descanso, ela quer os pais por perto. Pois monstros, fantasmas e similares habitam o quarto e provocam pesadelos. É difícil de distinguir o sonho da realidade. Por isso, pede socorro. E não é só a mãe que aconchega e acalma. A presença protetora e corajosa do pai é sempre bem-vinda.


Peça sua coleção gratuitamente através do site Itaú Social!

Fonte: Site Itaú.

sábado, 11 de outubro de 2014

Era uma vez...

A contação de histórias amplia nosso universo simbólico, facilitando a compreensão de aspectos da realidade enquanto mantém vivo o interesse por mitos, fábulas e textos literários.

Era uma vez uma menina tímida e de bochechas rosadas que, desde pequena, aprendeu a gostar muito de histórias. O pai, de poucas palavras, vivia com jornais e romances na mão. Dele, muitos anos depois, ela herdaria vários títulos da literatura universal em edições com capa dura do Círculo do Livro: Antônio Callado, Julio Cortázar, William Faulkner, entre outros. Mas quem levava jeito para contar as narrativas que estavam nos livros, antes que a menina tivesse aprendido a ler, era a mãe. Buscava inspiração nas coleções que reuniam os contos de Hans Christian Andersen e dos irmãos Grimm, além das Fábulas do Esopo. Completavam o repertório os vinis coloridos da coleção Disquinho, que traziam histórias como A Formiguinha e a Neve e Os Três Porquinhos, interpretadas por atores e musicadas por João de Barro.

A partir dos 6 anos, a menina começou a passar as férias na casa da avó e dos tios paternos no sul de Minas Gerais. Ali, entre biscoitos de polvilho e nacos de pamonha, sentava-se no alpendre com os adultos e se punha a escutar, boquiaberta, os causos que as visitas tinham para contar. Havia sempre um vizinho que, em noites bem escuras, jurava ter visto a mula sem cabeça ou o lobisomem em seu quintal. Não faltavam anedotas típicas de cidades do interior, com personagens curiosos e situações surreais, nem conversas sobre mirabolantes tramas familiares. "Como cabe tanta história no mundo!", pensava a menina, com a imaginação povoada por cenas e seres incríveis.

O tempo passou, vieram livros de Monteiro Lobato e Marcos Rey, além de tantas descobertas. O tempo passou mais um pouco e a menina acabou se tornando adulta. Enveredou pelo jornalismo, pelo teatro e pela literatura. De um jeito ou de outro, contava histórias, é verdade, mas faltava aquela magia vivenciada gostosamente na infância. Certo dia, descobriu o evento Boca do Céu, um encontro internacional de contadores de histórias, idealizado pela artista e educadora Regina Machado, professora da Universidade de São Paulo, e realizado a cada dois anos na capital paulista desde 2001. Há 35 anos Regina pesquisa o universo da narração de histórias, em especial os contos de tradição oral, e é uma exímia - e apaixonada - contadora.

Empolgada com as oficinas de que participou no Boca do Céu e por ter escutado ao vivo alguns dos grandes contadores brasileiros, como Giba Pedroza, de São Paulo, e o carioca José Mauro Brant, a menina-já-adulta quis entender melhor os segredos e o fascínio da arte de narrar em público. Na conversa com Regina, descobriu por que mitos ancestrais, lendas, fábulas e contos de fada ajudam a explicar simbolicamente o mundo, oferecendo ao ouvinte outras possibilidades de compreensão de si mesmo e da realidade. Ao ganhar vida por meio da oralidade, essas narrativas mexem com a fantasia e a memória de cada um, atiçando os sentidos e trazendo à tona imagens muito particulares. "Vivemos num mundo em que a alma das pessoas está completamente seca, por isso precisamos de histórias e mais histórias", disse a educadora.

Comunhão

Não basta, porém, apenas um bom repertório de contos para virar um contador. "É uma arte como qualquer outra; demanda talento, técnica, trabalho, paciência e - por que não? - aprendizado pessoal. Para que você conte bem, precisa deixar que as histórias a transformem", ensinou Regina. Não fazem falta artifícios teatrais; afinal, a respiração, os gestos, o olhar, a voz e sobretudo a própria história são os principais recursos do contador. A narração pode se tornar uma experiência ritualística, de comunhão, da qual os ouvintes participam como interlocutores e cúmplices. Se analisarmos as culturas tradicionais, veremos que a figura simbólica do contador de histórias sempre esteve presente, como o responsável por transmitir conhecimentos e manter viva a memória coletiva. Os contadores de hoje são herdeiros dessa antiga prática.

A menina-já-adulta partiu, então, em busca de outras inspirações. Foi passar uns dias em Cordisburgo, no sertão mineiro, terra natal do escritor Guimarães Rosa (1908-1967). Lá conheceu o comerciante José Osvaldo dos Santos, o Brasinha, proseador dos bons, sabedor de inúmeros causos e fã das histórias do conterrâneo ilustre. Todos os anos, durante a chamada Semana Roseana - sete dias de eventos e atividades dedicados ao escritor -, Brasinha lidera a caminhada ecoliterária que percorre os lugares retratados por Rosa em sua obra, narrando trechos de Grande Sertão: Veredas e alguns de seus contos. Os textos roseanos, cujo primoroso estilo reproduz o linguajar sertanejo, se tornam mágicos quando escutados em voz alta.

Tais textos também ganham frescor na voz dos meninos e meninas do Grupo Contadores de Estórias Miguilim. Criado em 1995 pela médica Calina Guimarães, prima do escritor, e coordenado pelas contadoras Elisa Almeida e Dôra Guimarães, de Belo Horizonte, o grupo reúne narradores entre 10 e 18 anos, da própria Cordisburgo. Estão sempre no Museu Casa de Guimarães Rosa à espera dos visitantes. 

Atualmente, são 18 "miguilins" e outros 28 se encontram em formação. O responsável por eles é Fábio Barbosa, funcionário do museu e integrante da primeira turma de contadores. Com sua fala mansa e cadenciada, Fábio emocionou a menina-já-adulta ao narrar o conto "Soroco, sua mãe e sua filha" na desativada estação de trem da cidade. Mais tarde, na companhia de Brasinha e à beira do Córrego do Onça, outras lágrimas vieram ao escutar a miguilim Carol narrando o primeiro encontro de Riobaldo e Diadorim, uma das passagens mais lindas da obra-prima de Rosa.

Curiosamente, esse foi o primeiro texto do escritor narrado por Elisa Almeida, a "madrinha" dos miguilins. Psicóloga infantil, por influência da antroposofia decidiu usar contos de fada - traduzidos da versão original - no atendimento a crianças. A descoberta foi tão prazerosa que Elisa abandonou gradativamente a atividade clínica e passou a se dedicar à narração oral e à realização de oficinas - e isso há mais de 20 anos. "A troca entre o narrador e o ouvinte, por meio da imaginação, sempre me instigou", disse Elisa, cujo repertório é formado por textos literários. "O contador entrega ao público as imagens que a história lhe suscita e cada pessoa as recebe de um modo, fazendo suas próprias ligações. É muito emocionante."
Uma lembrança puxa a outra, e a menina-já-adulta se recordou daquele dia em que esteve na praça principal de Villa de Leyva, uma cidadezinha histórica da Colômbia, e viu um rapaz se instalar, com seu banquinho, diante da escadaria da catedral. Pouco a pouco, as pessoas se sentaram por ali. Meia hora depois, com desenvoltura e bastante empolgação, o homem começou a narrar histórias diante de uma atenta plateia. Logo descobriu que se tratava de um cuentero: figura popular em vários países latino-americanos, ele mantém viva a tradição de desfiar seus contos em espaços públicos.

Pura fantasia

Durante o período que viveu em Barcelona, Espanha, a menina-já-adulta teve a oportunidade de conhecer um experiente narrador colombiano: o Alekos de la Sierra, também músico e artista plástico. Neto de uma pitoresca contadora de histórias e desde cedo envolvido com trupes artísticas, ele descobriu sua verve de cuentacuentos durante um curso coordenado por um narrador cubano, em 1988. Enamorou-se de tal forma da atividade que nunca mais a deixou. Além de apresentações em escolas e centro culturais, Alekos participa do festival anual de narração oral realizado na capital catalã, o Munt de Mots (Monte de Palavras), que vai para a quarta edição. Usa contos tradicionais latino-americanos, textos de autor e anedotas próprias.

"O momento da contação é de pura fantasia: acontece em outro espaço - não mais o espaço real - e abre as portas para um estado transcendente", disse. O narrador Alekos roda a Espanha apresentando um de seus espetáculos mais famosos: Inutensílios. Ele recria, com pequenas esculturas feitas de material reciclado, um povoado mítico habitado por uma dezena de personagens. Enquanto manipula os objetos, o artista conta as fantásticas histórias daquela gente e daquele lugar. Pura poesia.

Ainda na Catalunha, a menina-já-adulta conviveu com muitos outros contadores, como os catalães Albert Marqués, mais conhecido como Ós Mandrós, e Marga Socies, que circula pelas escolas locais com seu fantástico livro de histórias, cheio de desenhos e segredos, relatando as peripécias dos principais personagens dos contos infantis depois do letreiro "fim". Com tão boa influência, nossa protagonista finalmente deu seus primeiros passos na arte. Durante quatro meses, uma vez por semana, contou histórias para uma pequena turma de 14 crianças, na maioria imigrantes entre 10 e 11 anos, em uma escola em Badalona, grande Barcelona. Uma experiência, para ela, inesquecível!

Era uma vez, então, uma menina que, enquanto crescia, enchia sua maletinha com contos aprendidos e outros inventados. Em suas aventuras, lidou com dragões e serpentes, apaixonou-se por muitos príncipes e até voou com as borboletas. Até que, um dia, já grandota, falou uma frase mágica e... não parou mais de contar histórias. E, assim, viveu feliz para sempre.

Fonte: Revista Vida Simples, edição 130, de 1 abril 2013. Texto de Maria Fernanda Vomero (contadora de histórias desde sempre).