terça-feira, 24 de setembro de 2013

Top 20 dos livros mais vendidos

Ficção

1.    A culpa é das estrelas - John Green

2.    Inferno - Dan Bronw


3.    O silêncio das montanhas - Khaled Hosseini


4.    Cidades de papel - John Green


5.    O teorema Katherine - John Green


6.    Cretino irresitível - Christina Lauren


7.    Um toque de vermelho - Sylvia Day


8.    Uma longa jornada - Nicholas Sparks


9.    Cidade dos ossos - Cassandra Clare


10.  Cinquenta Tons de Cinza – E.L. James


11.  O ladrão de raios - Rick Riordan


12.  Para sempre sua - Sylvia Day


13.  Intenso - Sylvia Day


14.  O Lado Bom da Vida – Matthew Quick


15.  Peça-me o que quiser - Megan Maxwell


16.  As Vantagens de Ser Invisível – Stephen Chbosy


17.  O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry


18.  Cinquenta Tons de Liberdade – E.L. James


19.  O mar de monstros - Rick Riordan


20.  Cinquenta Tons Mais Escuros – E.L. James


Os livros em negrito fazem parte do nosso acervo. Consulte o catálogo do SIBI (Sistema Integrado de Bibliotecas de São Carlos)


Fonte: Revista Veja

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As Bibliotecas por Valter Hugo Mãe


As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem  está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.

Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.

Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se  entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.

O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.

Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.

Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir. Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.

As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.

Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.

Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.

As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.

Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.

Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.

Fonte: Crônica de Valter Hugo Mãe, Jornal de Letras.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os pequenos livros das grandes coisas

Os títulos infanto-juvenis crescem, mas não se dedicam só aos jovens

O menino ficou amigo do passarinho, mas o passarinho morrera na varanda. Outro garoto matou o bichinho, que agora pia em seu coração. Estes argumentos carregados e violência e sexualidade orientam os livros de Bartolomeu Campos de Queirós e Wander Piroli. Suas histórias, intituladas Até Passarinho Passa (Moderna) e O Matador (Leitura), abrigam-se sob a categoria infanto-juvenil. Mas quem garante que um adulto não precisará delas?

A literatura infanto-juvenil é o mais sério caso entre as ficções brasileiras. Ela ultrapassa as fronteiras etárias e orienta a produção adulta. Faz seis décadas que somos aproximadamente o mesmo leitor desde a adolescência. Ou nos infantilizamos a ponto de exigir, dos escritores, a linguagem do início de nossas vidas, ou os jovens cresceram rápido demais e invadiram o terreno da imaginação adulta.

“Quando eu tinha 12 anos, não lia literatura infanto-juvenil. Eu lia Tchekov”, afirma Nelly Novaes Coelho, a mais respeitada teórica brasileira a abordar essa produção. “Depois de O Reizinho Mandão, da Ruth Rocha, disse ao meu marido que a ditadura acabaria logo, já que até a literatura juvenil zombava dela”, conta. Ela leu o livro em 1977 e o AI-5 foi revogado no ano seguinte.

Nelly crê que toda literatura obedece a um impulso criador ligado ao erotismo. Se o sexo está cerceado na sociedade, como no Brasil no início do século XX, a elaboração mental cresce. Solto o erotismo, não é preciso recorrer à extrema organização de ideias para se relacionar com o mundo.

“A literatura infantil hoje, ao contrário daquela de 40 anos atrás, está cheia de besteirol, mas deixa estar”, raciocina Nelly. “Vivemos uma transição esperando que um novo sistema, tão eficiente quanto aquele racional e literário, se imponha. A criança de hoje tem um mundo mágico à sua disposição, fundado em tecnologia. Vai ler por que? Na minha infância, havia muita literatura, mas a magia se reduzia ao Ford Bigode estacionado na rua.”

Para Nelly, de 87 anos, não se pode pensar em literatura, hoje, senão como uma tradição necessitada de incentivos escolares. Mas ocorre de os próprios professores não a conhecerem. A capacitação desses profissionais toma um enorme tempo na vida de um escritor como Luiz Raul Machado, que orienta grupos no Rio. É preciso que os professores aprendam a gostar de ler, ou a literatura morrerá, ele diz.

A batalha pela aquisição de leitores não tem trégua também no mercado editorial, já que as vultosas compras governamentais de títulos infanto-juvenis sustentam muitas casas publicadoras. A Câmara Brasileira do Livro informa que entre 2007 e 2008 os títulos para crianças com até 10 anos cresceram 14,02%. A partir de 11 anos, 41,88%. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, de 2007, é a mãe de família a principal responsável pela indicação dos livros a seus meninos com até 10 anos. Na faixa etária entre 11 e 13, a criança lê principalmente o que a escola exige. A partir dos 14 anos, escolhe. Mas lê menos do que antes.

Há quem ligue a perda desse leitor à simplificação promovida por educadores e editoras. “O conceito infanto-juvenil é questionável”, acredita Elisabeth Maggio, autora de O Senhor dos Pesadelos. “A ideia contida no conceito é que os jovens terão uma literatura mais fácil e digerível para estimulá-los a ler e que, com o tempo, farão a transição para uma literatura adulta. Mas nem sempre acontece assim. Os leitores acabam estacionando na tal da literatura de transição, e quando têm de ler o Machado de Assis pela primeira vez, é um choque.”

Milu Leite, finalista do Prêmio Jabuti por O Dia em Que Felipe Sumiu, condena a pressão por enquadrar a literatura como “mais uma maneira” de educar as crianças. “Essa pressão vem de algumas editoras, pais e escolas, não das crianças, os leitores.” Bartolomeu Campos de Queirós tem sua visão particular desse universo. “A sociedade confunde infância com o superficial, o raso, o vazio. Mas a infância é o lugar das perguntas, dos medos, das dúvidas, das alegrias, mas também das tristezas.”

O Nobel de Literatura Isaac Bashevis Singer, autor de Histórias para Crianças (Topbooks), enumerou em 1978 suas razões para escrever para esse público. “Na época de hoje, quando a literatura para adultos se deteriora, bons livros infantis são a única esperança, o único refúgio. Muitos adultos leem e apreciam livros infantis. Escrevemos não só para crianças como para seus pais. Eles, também são crianças sérias.”

Responsável por títulos destinados às escolas, Maristela Petrilli de Almeida Leite, da Editora Moderna, diz não discriminar temas, embora oriente a linguagem destinada a seus leitores. “O texto tem de ter qualidade e ser prazeroso. Não cai bem o palavrão. Se puder substituí-lo por outra expressão, o autor deve fazê-lo.”

Lilia Schwarcz iniciou, em 1992, a publicação de infantis pela Editora Companhia das Letras. Ela reconhecia a seriedade desse mercado e das publicações da área no Brasil, mas, mãe de crianças, achou por bem dar a face de sua editora aos títulos para jovens. Publicou os livros de Babette Cole, apresentou autores como Dr. Seuss, pediu ao ilustrador brasileiro Odilon Moraes para desenhar sem cores um clássico como Pinóquio, de Carlo Collodi. As ousadias ampliaram seu público.

Em uma livraria, títulos como esse Pinóquio ou Av. Paulista, de Carla Caffé, que integra a coleção Ópera Urbana, da Cosac Naify, podem confundir um leitor. Ele será uma criança se achar que aquele livro infanto-juvenil lhe foi destinado?

A confusão não ocorre por acaso. Em alguns casos, é estimulada. A editora Isabel Lopes Coelho quer que os livros da Cosac diluam as fronteiras entre adultos e pequenos. Não há outra maneira, a seu ver, de formar um bom leitor. Os livros da editora são especialmente pensados sob o aspecto do design, como se as categorias etárias se distinguissem também pelo repertório gráfico, absorvendo elementos da arquitetura ou do cinema conforme a idade avança.

“A literatura não tem destinatários, mas remetentes”, defende o autor Odilon Moraes, que ilustrou O Matador, obra capaz de entender a criança, antes de se adequar a ela. Moraes diz que é preciso derrubar o antigo conceito de livro infanto-juvenil, no qual a palavra manda. “A ilustração também é escrita, ajuda a contar uma história, seja qual for seu público”, ele defende. Em razão disso, crê que um novo conceito, o do Picture Book, livro com imagem, já muito comum entre crianças e adultos japoneses, chega para ficar. Nesta produção, concebida à moda de um roteiro cinematográfico, estaria contida a nova escrita para um vasto público, não só infantil. Seria este o sistema a substituir o racional e literário, esmagado pelo Ford Bigode de Nelly Novaes Coelho? O tempo, reizinho mandão, dirá.

Fonte: Revista Carta Capital, n. 562, 2009, Texto de Rosane Pavam