segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Medio pan y un libro (Meio pão e um livro)

Discurso do poeta Federico García Lorca na inauguração da biblioteca de sua cidade natal “Fuente Vaqueros” em Granada, Espanha em setembro de 1931.

"Quando alguém vai ao teatro, a um concerto ou mesmo a uma festa de qualquer índole que seja, se a festa é de seu agrado, imediatamente lembra e lamenta que as pessoas que ele ama não se encontrem ali. “Minha irmã e meu pai gostariam de estar aqui”, pensa, e não desfruta mais do espetáculo, a não ser através de uma leve melancolia. Esta é a melancolia que eu sinto, não pela gente de minha casa, o que seria pequeno e ruim, mas por todas as criaturas que por falta de meios e por desgraça não desfrutam do supremo bem da beleza que é vida e bondade, serenidade e paixão.

Por isso nunca tenho um livro, porque presenteio todos que compro,  que são numerosos, e por isso estou aqui honrado e contente em inaugurar esta biblioteca da cidadezinha, a primeira seguramente de toda a província de Granada.

Não só de pão vive o homem. Eu se tivesse fome e estivesse à míngua na rua não pediria um pão; pediria meio pão e um livro. E daqui eu ataco violentamente aos que somente falam de reivindicações econômicas sem jamais apontar as reivindicações culturais que é o que os povos pedem aos gritos. Bem está que todos os homens comam, porém que todos os homens saibam. Que desfrutem de todos os frutos do espírito humano porque o contrário seria convertê-los em máquinas a serviço do Estado, seria convertê-los em escravos de uma terrível organização social.

Eu tenho muito mais pena de um homem que quer saber e não pode, do que de um faminto. Porque um faminto pode acalmar sua fome facilmente com um pedaço de pão ou com umas frutas, porém um homem que tem ânsia de saber e não possui os meios, sofre uma terrível agonia porque são livros, livros, muitos livros o que necessita e onde estão estes livros?

Livros! Livros! Aqui está uma palavra mágica que equivale a dizer: “amor, amor”, e que deveriam pedir os povos como pedem pão ou como desejam a chuva para suas colheitas. Quando o insigne escritor russo Fedor Dostoievski, pai da revolução russa muito mais que Lênin, estava prisioneiro na Sibéria, afastado do mundo, entre quatro paredes e cercado por desoladas planícies de neve infinita; e pedia socorro em carta a sua família distante, somente dizia: “Envia-me livros, livros, muitos livros para que minha alma não morra!”. Tinha frio e não pedia fogo, tinha uma sede terrível e não pedia água: pedia livros, ou seja, horizontes, escadas para subir a montanha do espírito e do coração. Porque a agonia física, biológica, natural, de um corpo por fome, sede ou frio, dura pouco, muito pouco, mas a agonia da alma insatisfeita dura a vida inteira.

Já disse o grande Menéndez Pidal, um dos sábios mais verdadeiros da Europa, que o lema da República deve ser: “Cultura”. Cultura porque somente através dela se pode resolver os problemas que hoje debate o povo, cheio de fé, porém falto de luz."

Fonte: Site Biblioteca Unisinos.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Exercite seu cérebro

Leia simultaneamente vários livros e exercite seu cérebro! Ao praticar isso, você o forçará a lembrar do ponto que parou em cada um dos livros. Isso é muito importante, pois estaremos estimulando o crescimento da parte mais importante do nosso corpo. Além disso, ao exercitar o cérebro, aumentamos a quantidade de ligações (pontes) entre os neurônios, deixando-o mais ágil e flexível.

Além dessa, conheça abaixo outras dicas para poder estimular, fortalecer, aumentar as conexões, melhorar a agilidade e a flexibilidade cerebral. Segundo neurocientistas, deve-se sempre exercitar o cérebro, executando as tarefas diárias de maneira diferente da habitual. Siga essas dicas:

- Vista-se com os olhos fechados;
- Faça um caminho diferente para ir ao trabalho;
- Coma com os olhos fechados e sinta as diferentes texturas e sabores;
- Passe algumas horas com o ouvido tampado para experimentar o mundo sem sons;
- Aprenda um novo idioma;
- Cheire um aroma em momentos rotineiros como ao acordar, antes de se vestir antes de deitar ou ao escutar música;
- Mude de supermercado;
- Escove os dentes de olhos fechados usando a mão não dominante;
- Tome banho de olhos fechados;
- Veja as horas em um espelho;
- Use o mouse com a mão não dominante.
- Leia vários livros ao mesmo tempo!

E ai, curtiu as dicas?

Fonte: Leia Livro

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Bichos leitores!

Ao pensar no título desse texto comecei a rir sozinha, pois fiz uma revisão das inúmeras ações que realizei durante mais de 30 anos de profissão com o objetivo de formar leitores. Gosto tanto de ler e de narrar histórias que, duvidem, lembro-me nitidamente de rostos e reações de crianças e adultos nas minhas diferentes ocupações literárias.

Como resolvi falar de bichos leitores, fiquei me imaginando formando bichos-leitores numa roda de histórias, rodeada de gatos, cachorros e passarinhos, pelos menos esses animais de maior convivência com o humano. Ops! Ando vendo reportagens de pessoas que fazem coleção de cobras e lagartos (isso é pior que dizer cobras e lagartos!)

Prefiro a minha coleção! Prefiro falar da minha coleção! Eu e a Ana Esmeralda Carelli que trabalha comigo na Universidade Estadual de Londrina, colecionamos livros que tratam de livros, bibliotecas e leitura. Outro dia ela me deu de presente um livro. Um livro encantador! Seu título é Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo escrito por William Joyce, ilustrado por William Joyce e Joe Bluhm. Talvez você leitor não conheça o livro, mas pode ter assistido o filme a respeito dele veiculado no youtube cujo título é Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore. Se ainda não viu, lá vai o endereço.

Fiquei tão feliz com o presente que tirei da minha biblioteca outros livros e os levei para a Ana Esmeralda verificar se ela já conhecia. Alguns sim outros não.

O fato é que, nessa mediação literária, anotei alguns para comprar e ela também. Isso tudo me encheu a boca d’água e numa vontade animal, comecei a buscar livros com bichos leitores e descobri, talvez (re)descobri, que eles são muitos. Na minha estante tenho alguns e é deles que quero falar agora.

Vou começar pelo morcego-leitor porque geralmente as pessoas têm nojo de morcegos; eu tinha um pouco de medo, mas uma vez fiz pesquisas e descobri que são importantes para a natureza, então passei a olhá-los (de longe) com outros olhos.

O meu morcego-leitor, isto é, meus morcegos estão no livro Morcegos na biblioteca que tem texto e ilustrações fantásticas de Brian Lies. Veja como eles resolvem acabar com o tédio que estavam sentindo numa noite fria:

Já chegou outra noite escura
com ar frio e céu azulado.
Já comemos, voamos e brincamos,
mas ainda estamos entediados!
Esta monotonia dá uma tristeza!
Para nos alegrar, só algo muito divertido,
bem melhor do que qualquer soneca...
Será possível? Que grande ideia!
Vamos passear na biblioteca! (LIES, 2009, p.1-3).

Nessa biblioteca aconteceu, entre outras atividades, a narrativa de histórias para os bebês-morcegos que se espalharam pela biblioteca e ficavam da forma que desejavam, incluindo a posição dependurada de cabeça para baixo nas mesas e estantes.

Outro livro que tenho é Dewey um gato entre livros da escritora norte-americana Vicki Myron com a colaboração de Bret Witter, mas, por não ser infantil, quero falar do O gato da biblioteca que foi escrito por Kenji Miyakawa, carioca que mora no Japão há mais de 40 anos e ilustrado por Goroh Tabata. Ele narra a história de um gato que mora numa biblioteca com sua família e nela lê muito livros, principalmente os leves e menores, pois os “enormes” ele tem medo que caiam em cima dele esmagando-o. Um dia de tanto sonhar em se aventurar pelo mundo, embarca clandestinamente no caminhão, e de repente, vai parar numa editora e nela passa a residir, pois ali conseguiu um dono que, além de cuidar dele com carinho, viajava muito, e estava aí a oportunidade de conhecer o mundo. Pensando nisso, ele pergunta: “Não é mesmo um sucesso!”

Tenho também o livro O monstro que adorava ler. Esse monstro é um misto de gente com bicho que adorava assustar as crianças entre árvores frondosas. Um dia urra para assustar uma menina bem pequena, porém ela estava tão compenetrada lendo que não se assusta. O monstro irado dá um urro muito forte que a menina foge assustada, esquecendo o livro. Ele curioso para saber por que aquela menina estava tão fascinada, começa a tentar entender o que era aquele objeto. A avó Dragão não se conformando dele não saber o que é um livro começa a alfabetizá-lo... depois disso a mania de leitura se espalhou entre os outros monstros. O monstro em gratidão sente vontade de reencontrar aquela menina.

Assim, o grande monstro deixou o livro da menina perto da pedra onde o encontrara; Em seguida, colocou ali uma outra pedra, menor e achatada, em forma de coração... Talvez seu desejo se realize, quem sabe?

Caro leitor se o monstro encontrou a menina a autora não contou, mas na última página, após a biografia da autora e do ilustrador, há uma imagem dos dois juntos. Então fica para o leitor decidir... Essa liberdade é fundamental para amar o livro e a leitura, pense nisso mediador!

Sugestões de leitura

CHARTRAND, Lili. O monstro que adorava ler. São Paulo: Comboio de Corda, 2009.
LIES, Brian. Morcegos na biblioteca. São Paulo: Globo, 2009.
MIYAKAWA, Kenji. O gato da biblioteca. [s.l.], Shinseken, 2001.

Fonte: Site InfoHome, Colunas novembro/2013, Texto de Sueli Bortolin.