Entrevistando Fabrício Carpinejar
Poeta, cronista, jornalista
e professor, Fabrício Carpinejar (junção
dos sobrenomes da mãe, Carpi, e do pai, Nejar) fala da leitura em um tom poético e criativo e
diz que a estante não tem portas justamente para que as pessoas possam pegar os
livros sem cerimônia. Para ele, quando o livro for tão importante quanto um
domingo, com certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados.
Em sua opinião, qual é a
importância da leitura na vida das pessoas?
FABRÍCIO CARPINEJAR A leitura não nos empresta somente palavras, nos empresta silêncio. Quem não lê dificilmente aprende a ficar quieto, aceitando a solidão como parte do pensamento. Ler é conversar consigo para melhor conversar com os outros. É organizar a experiência. Todo o turbilhão de fatos, lembranças, sequência de nossa vida pode ficar solto sem uma literatura que o organize. Não teríamos hierarquia, ordem, força nas idéias. Seria um caos sensitivo.
FABRÍCIO CARPINEJAR A leitura não nos empresta somente palavras, nos empresta silêncio. Quem não lê dificilmente aprende a ficar quieto, aceitando a solidão como parte do pensamento. Ler é conversar consigo para melhor conversar com os outros. É organizar a experiência. Todo o turbilhão de fatos, lembranças, sequência de nossa vida pode ficar solto sem uma literatura que o organize. Não teríamos hierarquia, ordem, força nas idéias. Seria um caos sensitivo.
Qual é o papel da família na formação dos
leitores?
CARPINEJAR A tarefa de casa não precisava existir na escola, é da
família. O livro sempre foi um elo para entender meus pais. Deixavam cartas
dentro das obras, trechos sublinhados. O livro é a toalha de mesa do café da
manhã, do almoço e da janta. Objeto acessível, que não era endeusado. Muitas
vezes, os pais criam bibliotecas para a criança pedir licença para mexer.
Biblioteca tem que ter a naturalidade de nosso braço. É puxar de cima e amar.
Assim como o hábito de contar histórias seduz a criança. É um teatro que ela
dispõe por alguns minutos para ouvir a voz paterna e materna. Depois, eles vão
procurar a voz dos pais nos livros e vão encontrar a sua. O livro fica em nossa
vida quando emoldurado de encontros afetuosos. Todo jovem tem uma trilha
sonora, eu tenho uma biblioteca para ouvir e guardar minhas mais fortes
recordações. A escrita pode ser tão atraente quanto à música. Está esperando
bons intérpretes.
Você acha que é possível despertar o interesse
pela leitura em pessoas mais velhas, tardiamente alfabetizadas, os chamados
neoleitores? Que ações recomenda nesse sentido?
CARPINEJAR Diante da solenidade da leitura, se a criança pede - infelizmente - licença para ler, o adulto tardiamente alfabetizado é obrigado a pedir desculpa. Ele lê com culpa, com medo de errar, de se envergonhar por não ter feito isso antes. O trabalho é retirar a carga de sacrifício e pesar, de
vitimização. Cada um tem seu ritmo e sua mensagem. Indicaria o uso da vida
cotidiana e o emprego da oralidade criativa e alegre para os neoleitores.
Cantar, contar histórias, redigir cartas para família, preencher pedidos de
emprego. Ler a vida para ler um livro, para ler depois o livro de sua vida.
Outra coisa: somos analfabetos perante os nossos próprios sentimentos. Ninguém
é culto o suficiente para lidar com o milagre vulnerável da pele. Diante da
paixão, somos analfabetos e vamos soletrar o nome da amada. Diante da dor,
somos analfabetos e vamos repetir as tristezas até acomodá-las. Ninguém nunca
está atrasado para se revelar.
O brasileiro ainda lê pouco. Para você, qual a
razão disso? O que pode ser feito para melhorar a situação?
CARPINEJAR Lê pouco porque não entende a leitura como uma escolha, mas
como uma obrigação. E vamos adiar o que não escolhemos. O livro tem de ser muito mais familiar do que a gente
costuma ligar, manejar. Tem de ser algo mais acessível. A gente ainda trabalha
o livro como estudo, não como prazer. Temos que estudar mais. Então ler mais é
estudar mais, é se preparar mais. O livro é justamente o contrário também. É como jogar
futebol, vôlei. É de uma certa forma se descontrair mais, conversar mais, se
alegrar mais. Eu não vejo um produto tão lúdico e tão aberto a essas
referências referentes à imaginação. É óbvio que o livro é visto como trabalho.
Eu acho que o livro é um jogo. A partir disso, um jogo de idéias, assim como os
socráticos e os filósofos gregos se divertiam na argumentação, assim como os
repentistas se divertem procurando o riso pelas palavras, assim como os
trovadores do RS se divertem procurando a bravata, o chiste. É o modo como a
gente lida ainda com a cultura. A gente lida como resíduo de um sistema de
trabalho. Ela não está inserida ou enquadrada num contexto de contentamento e
de final de semana. Quando o livro for tão importante quanto um domingo, com
certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados.
Se você quer conhecer mais sobre este escritor acesse o site www.carpinejar.com.br ou o blog: http://fabriciocarpinejar.blogger.com.br
Fonte: Portal do Professor, edição 21
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