sexta-feira, 23 de março de 2012

Contadores de causos

Projetos que trabalham com crianças despertam o prazer da leitura ainda na fase da alfabetização

Graças a alguns projetos, regiões distantes dos grandes centros urbanos não ficam sem uma biblioteca se o único obstáculo para a chegada dos livros for a localização. A Expedição Vaga Lume, por exemplo, desde 2001 leva livros até comunidades rurais da Amazônia. O acesso da garotada à leitura é garantido com a doação de estrutura para exposição das obras e a formação de mediadores de leitura e multiplicadores - capacitados a ensinar e eleger novos voluntários para fazer a ponte entre o livro e o leitor. O diferencial é a valorização das tradições regionais e o fortalecimento dos vínculos. "Nas comunidades, todos se conhecem, e os mediadores costumam ser professores ou líderes comunitários", explica a educadora Joana Arari, integrante do projeto. Segundo ela, essa aproximação aumenta o interesse pelas histórias que são contadas. Não por acaso, os livros mais solicitados são os artesanais, produzidos com base em lendas ou causos contados pelos moradores durante as rodas de prosa e confeccionados pela comunidade com tecidos e bordados. 
Em Barreirinhas, a 259 quilômetros de São Luís, quatro comunidades são atendidas pelo projeto. E o desenvolvimento proporcionado pelas ações da expedição foi notável: até o fim de 2007, quatro bibliotecas tinham sido instaladas, totalizando 1 451 livros para atender 1 483 crianças de quatro escolas. Sem contar a formação de 97 mediadores de leitura e seis multiplicadores. Houve avanços também com as novas iniciativas que surgiram na região por influência do projeto. 
A professora e multiplicadora Cleonicy Martins de Sena Conceição, por exemplo, foi uma das idealizadoras do projeto Caixote Na Costa, Leitura Posta. "Eu e mais cinco pessoas colocamos livros nos minicaixotes que fazem parte da estante de livros e fomos expandir os ideais da Expedição Vaga Lume para mais duas comunidades", explica. Já Edileusa Vale Silva, que só aprendeu a ler aos 11 anos, aproveita os ensinamentos do projeto para enriquecer as leituras que já promovia em casa. Ela começou atendendo 15 garotas - amigas de suas filhas - que iam mal na escola. Agora, já são 40 crianças. "O esforço vale a pena. Um dia desses, um garoto que hoje tem 8 anos disse ter aprendido a ler na minha casa, e que só se esforçou porque queria ler para mim, como faço para ele."

Fonte: Revista Nova escola, edição especial n. 18, Texto de Flávia Ribeiro com colaboração de Daniela Talamoni

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