segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Quero ser Marciano!

A descoberta que nasceu de um inesperado encontro com Fernando Sabino

"Quando crescer, quero ser piloto de avião." Sempre que alguém perguntava, eu respondia assim. Tinha 11 anos e minha maior vontade era conhecer o mundo. Queria visitar todos os países e imaginava que só conseguiria se fosse piloto de avião. Naquela época, conhecia só as praias de Santos e a fazenda dos meus tios, em Olímpia, a 450 quilômetros de São Paulo. Eram os dois locais onde passávamos as férias.

Na escola, devorei o volume 2 da Coleção Para Gostar de Ler, com crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade. Eu me diverti com a história do barbeiro que achava que o cliente era turco e só falava sobre a Turquia com ele. Contei em casa essa história com tanto entusiasmo que meu pai apareceu com O Encontro Marcado. Demorei para começar a ler o livro.

A grossura dele me assustou inicialmente. Devia ter três vezes mais páginas que o livrinho de crônicas. Além do mais, a concorrência era brava. A fazenda tinha piscina, cavalos, campo de futebol. Até o dia em que apanhei o exemplar e o levei para a rede na varanda. Fui apresentado para Eduardo Marciano, personagem central do livro.

Quando a história começa, Eduardo está com a mesma idade que eu. Por isso, começamos a nos identificar no primeiro capítulo. Página a página, o sonho de pilotar aviões começou a ir para o espaço. Decidi que queria ser escritor como Eduardo Marciano. Eu queria escrever como Fernando Sabino.

Voltei para São Paulo com desejo de me tornar escritor. Comprei cadernos de brochura para escrever minhas próprias histórias e perdi a conta de quantos livros passei a ler por mês. O tempo passou e fiz a faculdade de Jornalismo. Mas um encontro estava marcado na mesma Olímpia dez anos depois de minha formatura. Visitando os meus tios, encontrei numa estante da sala uma coleção de almanaques antigos. Fiquei folheando aquilo o fim de semana inteiro e nasceu aí a ideia do meu primeiro livro, O Guia dos Curiosos. O jornalismo e a literatura formaram uma harmoniosa relação em minha vida. Tanto que, hoje, quando me perguntam o que eu seria se não fosse jornalista e escritor, respondo: “Uma pessoa muito infeliz…”

Fonte: Revista Carta Fundamental, Texto de Marcelo Duarte

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