segunda-feira, 31 de outubro de 2016

“Ler para uma criança é dizer ‘eu te amo’: diz pediatra

“As crianças não são, como se diz normalmente, um copo que precisa ser preenchido, mas sim um fogo que precisa ser atiçado”, a frase é da pesquisadora e escritora espanhola Ana Garralón, no livro “Ler e saber”, e faz pensar: como despertar na criança o interesse por determinadas preferências?

Nesse contexto, surgiu em 2015 a campanha “Receite um Livro”, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que também é incentivada pelo clube de assinatura de livros infantis Leiturinha, responsável por enviar, mensalmente, kits de livros para quase 20.000 pequenos leitores de todo o Brasil e implantar cantinhos de leitura nas salas de espera dos consultórios médicos, o ‘Espaço Leiturinha’.

A proposta é orientar pediatras de todo o país e receitarem livros para crianças de zero a seis anos, incluindo aquelas com deficiência, prematuras ou com problemas cognitivos. O objetivo? Investir no potencial da literatura como mediadora de questões ‘difíceis’ de tratar com as crianças.

Segundo os médicos, crianças leitoras têm mais desenvoltura para resolver demandas emocionais e mais desenvoltura para se relacionar. Para os especialistas, a leitura oferece um resultado ainda melhor em pequenos com alguma deficiência ou déficit de aprendizado, uma vez que a partir das histórias eles podem descobrir habilidades desconhecidas e se reconectar com suas capacidades cognitivas.

Por que ler?


Entender o papel dos livros no universo infantil pode ser uma questão controversa. Atualmente ensinada nas escolas no âmbito da língua portuguesa, a literatura dificilmente é associada à forma de arte que é, estimulando a leitura apenas dos textos e deixando de lado o potencial de leitura de imagens, muito rica para desenvolver conexões e abrir possibilidades de significação.  Seja como for, ninguém duvida do potencial dos livros para estimular a curiosidade dos pequenos e ampliar o seu repertório de mundo.

Para Fernanda Veiga, pedagoga responsável pela seleção dos livros enviados pela Leiturinha, “oferecer livros que acompanhem a etapa de desenvolvimento de cada criança é fundamental. A escolha dos livros adequados à idade didática dos pequenos exige um cuidado minucioso sempre atento ao que é ideal explorar naquele momento.”

Por isso, é importante ampliar o espectro do que se entende por ‘leitura’. Contar histórias oralmente, cantar narrativas, contar histórias para o bebê ainda na barriga, ler em voz alta, fazer leitura compartilhada: tudo isso configura o ato de ‘ler’ e tem um papel importante no estabelecimento dos vínculos afetivos entre a criança e a família, e também de uma criança com outra criança.

O médico e filósofo Antônio Pessanha Henriques Júnior, de Cajuru (SP), destaca que a explicação médica para o benefício da leitura envolve o sistema límbido, uma espécie de ‘gaveta’ onde o ser humano armazena os sentimentos. “O universo da leitura, e principalmente da contação de histórias conduzida por alguém apaixonado por leitura, tem um envolvimento na formação de caráter de cada criança. É provável que esta “gaveta” vire um “container”, que servirá como um banco de dados para toda uma vida. E é bem provável também que todos aqueles tidos como “hiperativos” ou sem atenção tenham seus diagnósticos mudados depois de uma boa leitura”, explica.


No primeiro ano de vida, por exemplo, os livros de pano, de banho, com texturas, cores e sons são os que mais despertam a atenção e causam estímulos sensoriais e motores positivos para o desenvolvimento do bebê. Na foto, pequenas leitoras que recebem o kit da Leiturinha.

O psicolinguista colombiano Evelio Cabrejo Parra, vice-presidente da organização Ações Culturais Contra as Exclusões e Segregações (ACCES), defende a leitura desde a primeira infância, a explica que ler é adquirir a capacidade da linguagem. “O bebê, ao nascer, já vem com a capacidade de escutar. Quando se lê para ele em voz alta ou se canta uma canção de ninar, ele se põe em posição de escuta. Isso quer dizer que está tratando de construir significado à sua maneira. Por isso, é necessário alimentar essas potencialidades desde o princípio da vida”, ressalta.

Fonte: Catraquinha

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