segunda-feira, 3 de junho de 2013

Disciplina não é obrigação

Principalmente nos corridos dias de hoje, em que tanto se tem a fazer com tão pouco tempo de prazer, ler é um ato que exige disciplina. É necessário dedicar uma hora do dia, um tempo da aula, uma passada na livraria, uma parada na biblioteca.

E precisa iniciativa. Ler é bem diferente de assistir à TV. Todos nós estamos muito acostumados aos estímulos fáceis. Mas com o livro não é assim. Nós temos de ir atrás dele, abrir, ler, aceitar, rejeitar. "O livro tem um ritmo mais humano", afirma Eva Furnari, uma das autoras de livros infantis mais importantes do Brasil. É por essas e por outras que o contestador Ziraldo causa polêmica com a frase "ler é mais importante que estudar". Para ele e para tantas outras pessoas, o que bagunça essa relação de prazer é a obrigatoriedade. "Tem de parar com essa história de que ler é dever", diz Ziraldo. Eva Furnari observa outro lado. "Não acho ruim a criança ser obrigada a ler quatro livros por ano. O problema, às vezes, está na adequação do livro ou nas formas de avaliação." Para Maria José Nóbrega, educadora, o papel do adulto é adequar orientação a liberdade. Ou seja: a criança precisa ser encaminhada até que ela mesma possa fazer suas escolhas também. "No caso de uma leitura mais difícil - e é bom que seja, pois sem desafios a criança não sai do lugar - o professor deve acompanhar, ler junto, conversar sobre."

O escritor, pesquisador e ilustrador Ricardo Azevedo vê outro nó nessa história. Quando a literatura infantil foi incorporada à escola, passou-se a procurar nela uma utilidade direta e objetiva. E, pior: crescemos assim, e não faltam por aí adultos procurando função para a ficção e para a poesia. Mas toda a arte - no caso, a literatura - trata dos temas que ninguém pode ensinar. "Todos os tipos de livros são importantes, mas é preciso diferenciá-los. Imagine que uma criança pressuponha que todos os livros, no fundo, sejam didáticos. Ela vai ler um de poesia partindo da mesma premissa de que está estudando e se vê obrigada a captar, entender, aprender uma lição", diz Ricardo. E será que assim, procurando utilidade para tudo, alguém aprende a gostar de ler?

Fonte: Revista Crescer, Texto de Cristiane Rogerio e Marina Vidigal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário