Minha
paixão pela leitura surgiu com os gibis. Era a década de 1970. Morava no
interior do nordeste, e não era fácil o acesso aos livros de literatura.
Um
dia, fui com meu pai até a única banca de revistas da cidade. Ele me apresentou
ao dono (Seu Zé Campos) e declarou que a partir daquele dia eu poderia pegar
qualquer revista, fiado. Todo mês ele passava na banca e quitava a conta do mês
anterior. Meu filho há de gostar de ler – pensava ele.
Ali,
conheci a turma do Bolinha e da Mônica. Os gibis de heróis. A cada mês
descobria um novo gibi e a conta na banca ficava mais gorda.
No
começo dos anos 1980 vi, na banca, algo diferente que me chamou a atenção. Não
era um gibi. As ilustrações tomavam conta da página inteira, como se fosse um
quadrinho só a contar tanta história. Ah, e vinha com um disquinho junto.
Curioso, fiz dele a minha escolha daquele dia e corri pra casa.
O
livro Marinho, o marinheiro, de Joel Rufino dos Santos*, contava a história de um marinheiro que usava
um passarinho na cabeça. O capitão do navio o deixava de castigo por não usar
boné como todo marinheiro. No disquinho, ouvi a história dramatizada e com
músicas. À noite, reli a história na solidão do quarto. Queria mais.
Esperava
ansioso a chegada de cada novo livro-disquinho. Comprei toda a coleção.
Chamava-se TABA. As histórias, eram de craques da literatura como Ana Maria
Machado, Joel Rufino dos Santos, Maria Clara Machado, Ruth Rocha e Sylvia
Orthof.
Só
depois da TABA que li – e me encantei - com alguns livros da Série Vaga-Lume.
Indicados pela escola. Só depois da TABA que me emocionei com Vidas Secas. Que reli quatro vezes.
Foi
aquela coleção – vendida na banca de Seu Zé Campos - que me apresentou à
literatura. Meu coração-leitor batia forte esperando por elas. Batia forte
enquanto as lia. Batia forte ainda hoje quando me lembro, menino, viajando nas
histórias. Pena que haja menos Literatura Infantil de qualidade nas bancas de
revistas.
*
Marinho, Marinheiro. Joel Rufino dos Santos. Ilustrações de Michele Iacocca.
Editora Abril. 1982.
Fonte:
Revista Carta Fundamental n. 45, fev. 2013, Texto de Tino Freitas.
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