terça-feira, 18 de setembro de 2012

Inferno verde

João Carlos Marinho nos surpreende com sua espontaneidade nas aventuras como Sangue Fresco.

"Eu já havia lido e me divertido com O Gênio do Crime quando indicaram na escola Sangue Fresco, o segundo livro das aventuras da turma do Gordo. Em O Gênio do Crime, acompanhamos a turma desmantelar o esquema de uma fábrica clandestina de figurinhas difíceis. Mas foi o suspense de Sangue Fresco que definitivamente me arrebatou.
Eu me sentia como mais um integrante da turma do Bolachão, preso ao lado dele, de Alcides, Pituca, Berenice e Hugo Ciência no meio da Floresta Amazônica.
A história começa com um avião sobrevoando a floresta, carregado de crianças bem nutridas, sequestradas nas escolas de São Paulo. Logo descobrimos que a ação é coordenada por uma organização criminosa, a Fresh Blood Corporation, liderada por Ship O’Connors, que mantém crianças em um campo de concentração para sugar seu sangue e exportá-lo para os EUA e a Europa. O sangue do Gordo, claro, é dos mais valiosos.
O mais legal nos livros de João Carlos Marinho é o tom de sua escrita, irreverente, surreal e capaz de nos surpreender com sua liberdade e espontaneidade. Basta dizer que numa passagem, logo nas primeiras páginas, descreve em detalhes como uma enorme sucuri tritura e devora um garoto.  A aventura fica mais emocionante quando Gordo lidera a fuga da turma pela floresta, com mateiros experientes na sua cola. 
Sangue Fresco foi publicado originalmente em 1982 e reeditado em 2006. Um pouco antes disso, e para a mais agradável surpresa que tive como ilustrador, toca o telefone e, do outro lado da linha, a editora encomenda: ilustrações para reedição de Sangue Fresco! Revivi a aventura com o prazer da infância e de quebra recebi o João para um bate-papo. “Pense no inferno verde!”, dizia para me direcionar na feitura da capa, referindo-se às crianças na floresta, e “nunca desenhe personagens”, opinião com que concordei, afinal, “cada leitor deve imaginá-los de seu jeito”. 

Fonte: Revista Carta Fundamental, n. 35, fevereiro 2012, p. 61, Texto de Alê Abreu

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